tag:blogger.com,1999:blog-26130000793440966982024-03-13T01:57:46.349-03:00Cotidiano ProfanoIsso mesmo. Poderia ser 'insano' também.Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.comBlogger49125tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-91214989348750400242014-10-16T09:41:00.000-03:002014-12-26T02:04:57.550-02:00Superficial<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O rapaz estava se sentindo péssimo. O dia finalmente havia
chegado. Naquele aeroporto movimentado e barulhento, mais uma despedida
inauguraria a triste distância entre duas pessoas que realmente se gostavam.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O rapaz estava se sentindo confuso. O dia finalmente havia
chegado. Naquele aeroporto movimentado e barulhento, mais uma despedida
inauguraria a nova fase em sua vida, mesmo que isso significasse a
distância entre duas pessoas que realmente se gostavam.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Havia uma contagem regressiva implícita nos últimos meses. O
jovem de 20 anos estava sofrendo pela iminência da distância. Pela iminência da
solidão. Pela iminência da mudança – que daqui pra frente faria da vida uma
experiência bem diferente da que estava acostumado.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Havia uma contagem regressiva explícita nos últimos meses. O
jovem de 21 anos estava nervoso pela iminência da distância. Pela iminência de
novas experiências. Pela iminência da mudança – que daqui pra frente faria da
vida uma experiência bem diferente da que estava acostumado.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ele conseguia sorrir e mostrar empolgação. Mas, sendo bem
sincero, no fundo do peito, sentia uma agonia muito grande. Uma agonia por ter
que se despedir da pessoa que vinha deixando os seus dias mais felizes. Mais completos.
Mais cheios de amor. Uma agonia porque ele estava ficando. E o seu amado indo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ele conseguia consolar e mostrar tristeza. Mas, sendo bem
sincero, no fundo do peito, ele sentia uma empolgação muito grande. Uma
felicidade por estar se despedindo de tudo o que conhecia para viver dias mais
felizes. Mais completos. Mais cheios de amor. Uma felicidade porque estava
indo. Mesmo que o seu amado estivesse ficando.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
É claro que estava triste por ter em seu peito essa sensação
de agonia e desamparo. Queria estar integralmente feliz pela pessoa que tornou
os seus últimos 8 meses mais alegres e completos, e que, com o perdão da
pieguice, mostrou que o amor saudável – e não destrutivo – é possível. Mas não
dava. A distância era sinônimo de solidão.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
É claro que estava triste por ter em seu peito essa sensação
de empolgação e euforia. Queria sentir mais empatia pela pessoa que tornou os
seus últimos 8 meses mais alegres e completos, e que, com o perdão da pieguice,
mostrou que o amor saudável – e não destrutivo – é possível. Mas não dava. A
distância era sinônimo de novas possibilidades.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O aeroporto estava lotado. Tantas pessoas sem rosto correndo
de um lado para o outro. Chorando, sorrindo, se abraçando. Sentindo falta. E o
rapaz ali, de frente para quem tanto amava e que estava indo embora. Indo
embora para viver outros mundos. Para conhecer outras pessoas. Para ser livre.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O aeroporto estava lotado. Tantas pessoas sem rosto correndo
de um lado para o outro. Chorando, sorrindo, se abraçando. Sentindo falta. E o
rapaz ali, de frente para quem tanto amava e que estava ficando por aqui.
Ficando por aqui para viver a vida de sempre. Para, com sorte, conhecer algumas
pessoas. Para continuar aqui, preso.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Última chamada para o voo. E último beijo. E último abraço.
E último olhar. Apenas o começo de uma solidão sem prazo de validade definido.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Última chamada para o voo. E a possibilidade de novos
beijos. E a possibilidade de outros abraços. E a possibilidade de outros
brilhos em outros olhares. Apenas o começo de uma nova vida.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Te amo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Te amo.</div>
Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-18063276462337239902014-10-14T10:28:00.000-03:002014-10-14T19:57:19.124-03:00Para: alguém.<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
Eu ainda não te conheço, moço. Talvez tenhamos nos
cruzado alguma vez por aqui. Eu vivo pra lá e pra cá, mesmo. Talvez venhamos a
nos conhecer só daqui a uns 15 anos. Apesar de que, pensando bem, eu espero que
não demore tanto.</div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
A vida tem andado complicada. Não ruim. Complicada, sabe?
Como te disse, vivo de um lado para o outro, correndo pra conseguir fazer tudo
o que preciso. Passo por tanta gente durante o dia. De verdade. Gente bonita,
gente feia. Gente querida, gente chata. Gente com um brilho nos olhos, gente
com o olhar esmaecido. Gente, gente, gente. Mas, poxa. Nenhuma dessas pessoas
parece ser você.</div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
Caso seja, se manifeste. Se bem que, assim como eu, você
ainda deve estar me procurando. Todas essas pessoas passam por mim e eu fico na
ânsia por te reconhecer nos olhos de alguma delas. Por sentir um solavanco na
boca do estômago. Por sentir cócegas dentro de mim, causadas por essas
travessas e agitadas borboletas. </div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
Quando eu te conhecer, as coisas vão melhorar. A loucura
vai encontrar uma casa pra repousar. A correria do dia vai ter pra onde voltar.
Eu sempre concordo quando dizem que as melhores coisas do mundo não são coisas.
Que bom que você não é uma coisa. </div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
De você, meu querido, eu sinto saudades. Por você, meu
bem, eu sinto vontades. É certo que ainda não te conheço, mas certeza maior não
há: eu não preciso ter em minha mente as suas feições, se o meu coração já bate
mais forte por tudo o que você vai me fazer sentir. </div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
Espero que entenda as saudades antecipadas. Sentir isso por
alguém que vai me fazer tão feliz é perfeitamente normal. Ou, ao menos, deveria
ser. Não sei se você tem algum esclarecimento sobre a falta que sente de mim.
Acho que as pessoas são todas bem diferentes, né? Aconteceu, por acaso – ou não
–, de eu ser assim: tanto sentimento, ímpeto por contato e necessidade de você.
</div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
Hoje, no ônibus, meus olhares se cruzaram com os de
alguém. Se foi com os seus, também deve ter sentido o que senti. Me avise, por favor.
O silêncio será, por questão de lógica, uma resposta negativa – com a qual estou, infelizmente, tão acostumado.</div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
Algum dia você aparece. E fica. Até que esse momento
chegue, tenho pensado sobre escrever cartas em outras línguas.</div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
Nunca se sabe, né?</div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
Atenciosa e carinhosamente,</div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
o outro alguém.</div>
Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-66762201869100378062014-10-13T17:49:00.001-03:002014-10-14T21:41:50.407-03:00Noite<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
O rosto me persegue até em sonhos. O rosto me faz querer
mais. O rosto insiste em mim. E eu insisto em não esquecê-lo.</div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
Aliás, antes fosse apenas o rosto. Cada traço do seu
corpo persegue minha mente com uma força absurda. Me sinto violentado. Me sinto
vazio. Me sinto lotado de você. </div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
Aquelas cenas passam pela minha cabeça como flashes de um
<i>film noir</i>. A estética contrastante, o
clima denso. Você com uma expressão poderosa no rosto – assustadora, tensa,
profunda. A expressão de um assassino, capaz de estraçalhar a sangue frio
qualquer coração desprotegido. O meu coração. </div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
Você tem uma boa mira, sabia? Acertou em cheio. Conseguiu
o que poucos, antes, haviam conseguido. Minha mente não parece entrar em
sintonia com quaisquer outros pensamentos que não sejam aqueles envolvendo você. E
as cenas <i>noir </i>se repetem. E se
repetem. E se repetem. E se repetem. </div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
Estamos, agora, na cena do assassinato. Eu e você na
cama. Um cigarro entre os seus lábios. O êxtase se esvaindo aos poucos. E no
seu corpo – eu sabia – a sensação de plenitude que só um assassinato muito bem
planejado seria capaz de proporcionar. </div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
Você me matou. No quarto daquele hotel barato e
barulhento, você me matou. Me matou com todo o estilo de um matador
profissional. Me seduziu. Me fez ansiar pelo momento em que estaríamos naquele
hotel. Um lugarzinho escondido, nos cantos mais sórdidos da cidade, com quartos
que serviam, basicamente, para dois – ou mais – transarem. </div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
Você me matou. A melodiosa voz de Frank Sinatra se
misturou aos gritos. Aos urros. Aos gemidos. Às manifestações sonoras da
satisfação e do desejo. Sem piedade, me deixou morto naquele quarto
duvidosamente limpo, me entregando – sem pestanejar – às sombras da noite.<br />
<br />
A
porta se abriu. Você foi. Eu fiquei. Nesse ato obscuro e criminoso, meu coração
se rasgou.</div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
Não sei se morri com o prazer ou com a sua partida.</div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
Só sei que, desde aquele momento, você não sai da minha
cabeça.</div>
Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-89252031297787204412014-10-08T13:43:00.000-03:002014-10-09T20:15:11.844-03:00Do1s<div style="text-align: justify;">
A luz me cega por alguns instantes. O rapaz tenta me olhar, mas – como eu já sabia – não consegue. Desnorteado, dou alguns passos pra trás em busca de apoio. Coitado... acha que existe alguma superfície tangível por aqui. Ao mesmo tempo em que vejo, não sinto nada – e isso me deixa confuso. Vou caminhando até ele. A luz aumenta e preciso fechar os olhos. Que vontade de gargalhar. A coisa tá chegando mais perto. Passo, passo, passo. Ela parece estar flutuando. Passo, passo, passo. Quero correr, mas não consigo. Estou próxima e começo a me sentir ansiosa. Meus pés não me obedecem. Vou preenchê-lo. Não posso abrir os olhos. Quase posso tocá-lo. Sinto um calor enorme próximo ao rosto. Estendo a mão em direção à sua bochecha. Sinto que vou me queimar. Encosto em seu rosto. As palavras somem. Satisfação. Não queimo. Estou mudando. Me assusto. Me acalmo. Arrisco abrir os olhos. Continuo com minha mão em seu rosto. Luz, luz, luz, luz, luz. Que corajoso. Mas consigo permanecer de olhos abertos. Ele abriu os olhos. Não estou mais cegando. Já deve ter percebido que pode me encarar. Mesmo com essa luz absurda. Mesmo com a minha energia. O que é isso que me toca? Me sinto cada vez menos luz e mais humana. Parece uma mulher, mas é diferente, fluída. Não posso tirar minha mão de seu rosto. A mão segue em minha bochecha. Nunca havia sentido isso antes. Nunca havia sentido isso antes. Um instante. Uma eternidade.</div>
Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-51125816957850858812014-10-06T15:22:00.001-03:002014-10-06T15:22:57.809-03:00"Casa"Quem sabe eu não devesse estar aqui.<br />
<i>Dépaysement</i>. Sensação de não pertencer a algum lugar. <br />
<br />
Vejo os sorrisos ao meu redor. Vejo mãos dadas e olhares de cumplicidade. Vejo as coisas acontecendo. E a sensação de não estar no lugar ao qual pertenço me corrói.<br />
<br />
Posso sorrir. Posso contar piadas e gargalhar alto daquelas que ouço. Posso, inclusive, me divertir. Mas lá no fundo - nem tão lá assim - o sofrimento gélido e corrosivo parece estar sempre querendo se fazer notar. Sem descanso. Sem paz.<br />
<br />
Falando assim, até parece algo insuportável. Mas não é. E talvez seja justamente isso a maior crueldade do tal sentimento. Se não fosse possível aguentá-lo, alguma coisa - obrigatoriamente - seria feita. Mas já que é algo que "apenas" martela o fundo da mente - e do coração -, instaura-se falsamente uma outro pensamento: "Posso viver com isso".<br />
<br />
O que é ilusão, porque uma hora já não será mais possível aguentar.<br />
<br />
Quem sabe eu não devesse estar aqui.Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-30322635251505232772014-06-22T20:38:00.001-03:002014-08-16T19:38:40.097-03:00Porque<div style="text-align: justify;">
Porque estou sozinho? Porque não
consigo entender a situação? Porque preferiram outra programação do que aquela
que me incluía? Porque as coisas são assim? E outra coisa: porque vivemos nos
perguntando o porque das coisas? Seria porque estamos eternamente
insatisfeitos? Ou porque simplesmente não aceitamos as coisas como elas são –
ou deveriam ser?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Cada dia que passa é um dia a mais ou um dia a menos? Porque
existe essa dúvida? Não seria ela recorrente da eterna e inerente incapacidade
do ser humano de aceitar ser ‘simplesmente mais um’ em meio a tantos? Essa
pergunta parece um tanto quanto negativa, mas será – será mesmo – que não é
válida para questionamentos?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez sim, porque adoramos um porque aqui e outro ali. Até
que um porque é empilhado em cima de outro e aí temos infinitos “porque”
perdidos – que refletem de forma absolutamente desorganizada as incontáveis
dúvidas que insistem em nos assombrar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Certa vez alguém disse que pessoas inteligentes tendem a ser
mais negativas porque a atividade de pensar cria problemas que ainda não
exatamente existem. Pois talvez, na verdade, isso não faça sentido. (E não se
irrite com tantos talvez. Assim como o insistente porque, tudo é dúvida,
incerteza e insatisfação).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Perdão. Retornemos ao ponto. Essa afirmação pode ser
absolutamente errônea, porque “ser negativo” é, em variadas medidas que
dependem de pessoa para pessoa, característica do ser humano. De todo ser
humano. O porque disso? Simplesmente pelo fato de que todos queremos, sempre, saber
o porque de cada pequena ou grande coisa feita, ouvida, percebida, lida,
sentida, vista, ignorada. Vivida.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E cada porque o levará à uma resposta. E cada resposta o
levará a outro porque. Até que as tão desejadas respostas – que em sua maioria
são, na verdade, insatisfatórias – se esgotam. E cada porque fica sem par. E
cada porque fica no ar. Em busca de, pelo menos, algum talvez. E aí, cá estamos
nós: aspectos negativos que todos carregam consigo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Antes de você sair em busca de mais respostas
insatisfatórias, entenda: este texto não busca responder absolutamente nenhuma
das suas perguntas. Pelo contrário, espera-se que, pelo menos, alguns outros
“porque” surjam na sua mente e te façam correr atrás de “respostas”. Com aspas,
mesmo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Falando nisso, você pode tentar se enganar ou qualquer coisa
do tipo, mas vai acabar percebendo que toda resposta é a mesma. Que toda resposta
é um mascarado talvez.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Assim como, percebam neste texto, todo porque é exatamente igual.</div>Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-73757481478652063262014-06-21T13:06:00.000-03:002014-06-22T20:47:26.676-03:00Elx<div style="text-align: justify;">
Meus cabelos estavam bagunçados.
Fio sobre fio. Sem controle. Meus braços estavam começando a suar. Gota sobre
gota. Escorrendo. E mesmo assim – mesmo longe de estar “atraente” – você veio
até mim. Sentindo vontade. Sentindo necessidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O que eu podia fazer? Te abracei com toda minha força,
puxando seu rosto para o meu rosto. Misturando o seu calor com o meu calor. E
desejando, tão fortemente, a sua saliva com a minha saliva.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O abraço não foi terno. Não foi carinhoso ou mesmo querido.
Foi exatamente como deveria ser. Apertado. Intensamente sexual e insanamente
quente. Ao ter seu corpo contra o meu, tive também o seu sexo. Com força, te
puxei ainda mais para mim, e não me surpreendi ao perceber que você, esquecendo
das leis da física, também me quis ainda mais perto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nunca te desejei tanto quanto naquele momento. Meus olhos
permaneciam fechados, certos de que os outros sentidos fariam todo o trabalho
de percepção de uma forma muito mais completa e intensa. Imagino que você
também estava de olhos fechados, mas sobre isso nunca poderei ter certeza. O
fato é: eu te sentia com todo meu corpo. Cada milímetro da sua pele queimava
contra a minha, e não sei se era por essa razão ou alguma outra, mas eu não
aguentava: entre beijos desesperados e mordiscadas ousadas, eu suspirava alto.
Gemia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nos deparávamos, ali, com o que tínhamos de mais animal em
nossa essência. O que era sentido, era imediatamente feito. E foi assim que
minha mão foi parar na parte mais quente do seu corpo, onde repousava – alguns
diriam – a fonte do desejo. Tanto o seu quanto o meu.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em meio a tantos beijos, gemidos e suspiros, consegui espaço
– ou tempo, como queira – para abrir um pequeno sorriso. A culpa foi sua, pois,
imediatamente, tornou-se ainda mais ofegante e, sem dúvida, selvagem. Me
apertava. Me puxava. Me lambia. Me sentia com toda ânsia da entrega completa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fui adiante. Desgrudei meus lábios do seu pescoço e comecei
a descer. Aliás, não “comecei a descer”. Você viu. Eu simplesmente desci – como
mandou o instinto, a necessidade, a vontade de você – ficando com os olhos na
altura da sua calça – que, eu podia
sentir, implorava para ser aberta. Para ser finalmente descoberta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O que aconteceu a seguir... eu preciso de outra carta para
explicar. Só digo uma coisa: criatura, você é a mulher mais excitante com a
qual já me relacionei. E o homem mais gostoso com o qual já tive o prazer de
ter contato.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Acredite.</div>Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-54094643277097693552014-06-15T18:47:00.000-03:002014-06-21T13:10:08.403-03:00Sólido(ão)<div style="text-align: justify;">
Solidão é uma palavra que combina com outros aumentativos.
Assim como “grandão”, “amigão” e uma infinidade de outros exemplos, solidão tem
essa força em sua entonação final. Ão. Ão. Ão. Tem vontade, tem energia. Tem
tamanho. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Palavras assim derivam daquelas que possuem uma dimensão
padrão (de novo: ão, ão), como “grande” e “amigo”. E com a solidão não poderia
ser diferente – a palavra que denomina seu tamanho normal combina perfeitamente
com o significado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sólido. Pode parecer paradoxal a palavra que origina o
aumentativo “solidão” significar o oposto de abstrato. Mas não. Na verdade, faz todo sentido. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Segundo o dicionário, algo sólido é, entre outras coisas,
algo forte e incontestável. Algo que, mesmo com adversidades e interferências
externas, mantém-se com a mesma forma – com as superfícies que a delimitam sem
transformações ou mudanças. É algo que não sofre interferências. Que não se
deixa “ser outro”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E a solidão? Não podemos esquecer dela. Tudo se encaixa
quando percebemos essa etimologia oculta. Solid-ão é tudo isso dito no
parágrafo anterior com uma intensidade ainda maior. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É quando a não-interferência é demais. Quando a
impossibilidade de ser modificado por forças externas é exagerada. Quando toda
essa inacessibilidade do objeto – ou da pessoa em questão – ultrapassa os
limites. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Estar sozinho é não ser modificado, polido ou mesmo tocado.
Estar sozinho é permanecer da mesma forma. Estar sozinho é estar incapaz de
aceitar a possibilidade de ser outro – de ser melhor. De mudar de forma e
evoluir. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E aí, nesse ponto, alguém ‘sólido’ passa a ser alguém
‘solidão’.</div>
Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-34537982007820526142014-06-09T20:18:00.001-03:002014-11-27T00:35:45.532-02:00PrólogoHoje eu almocei lendo.<br />
<br />
Lendo os teus olhos focados no prato à frente. Nos teus olhos que, em momentos do tamanho da eternidade, cruzavam com os meus.<br />
<br />
Hoje eu almocei lendo.<br />
<br />
Lendo os teus lábios úmidos e inquietos, delicadamente engordurados por causa dos alimentos que levava do prato à boca e mastigava com certa displicência.<br />
<br />
Hoje eu almocei lendo.<br />
<br />
Lendo os movimentos dos teus braços, as idas e vindas do pescoço e os reposicionamentos constantes das pernas por baixo da mesa.<br />
<br />
Até que o livro se fechou. Você levantou. Pegou suas coisas e me deixou procurando pelos próximos capítulos.<br />
<br />
(Hoje eu almocei lendo.<br />
<br />
E percebi que você desempenha muito bem o papel de protagonista).Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-64529480331605690612013-08-01T03:53:00.000-03:002013-08-01T03:53:31.542-03:00Des-consciente (parte 3)<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<style>
<!--
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{page:WordSection1;} </style><span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Um zunido estranho
está me incomodando. Tão rápido quanto perdi a consciência – ou me perdi, não
sei –, eu a recuperei. A escuridão que antes tomava conta de minha visão e
parecia invadir meu ser agora não mais existe. Parece que estou deitado. Olho
pro teto. Mas até algum tempo atrás eu não era apenas uma consciência sem
forma?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Aparentemente, aquele
flash não apenas me levou a outro lugar, mas também me devolveu o corpo ao qual
eu estava acostumado durante todos esses meus anos de vida. Não sei como e
muito menos o porquê de tudo isso. Aliás, eu não estou entendendo nada do que
está acontecendo. Absolutamente nada. Só sei que consigo sentir meus pés, meus
braços, minhas mãos e todos os outros membros. E consigo sentir, de fato, que
estou deitado. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Acima de mim, apenas
um teto muito alto e branco. Olho para os lados e só vejo branco. Paredes
brancas. Chão branco.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Será que também
estou branco?! Por sorte, não estou. E ao me olhar, percebo que estou nu. Olho
ao redor, mas não há roupa alguma para vestir. Porém, como também não parece
haver ninguém por perto, não me preocupo com isso. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Então, me sento. Este
móvel onde estou parece uma daquelas camas de hospital – metálicas e com uma
aparência etérea. Me espreguiço, como se estivesse acordando de uma longa e
confortável noite de sono. Mas acredito que não tenha dormido – e, se dormi,
não foi nem um pouco confortável. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Hora de colocar os
pés no chão. E, surpresa!, ele não está gelado como eu havia pensado. É até bom
saber que finalmente estou reconectado à Terra. Olho novamente ao meu redor e
não vejo absolutamente nada. Apenas um longo e amplo corredor com teto, chão e
paredes brancas. Pelo menos, penso eu, não estou numa sala trancado entre
quatro paredes.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Decido seguir por
aquele longo corredor. Ele parece bem comprido, tanto que não consigo enxergar
seu fim, mas em algum ponto ele precisa terminar. E com esse pensamento em
mente, começo a caminhar.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Desnudo e descalço,
mas consciente, passo após passo vou pensando nas coisas que me aconteceram e
nas possíveis razões de terem acontecido, mas nada faz sentido. Nada parece ser
a resposta correta pra esse grande enigma em que me encontro. Penso em meus
pais e no quanto devem estar preocupados comigo. Penso no meu relacionamento
que estava começando a dar certo. Penso no meu trabalho – meu chefe deve estar
puto comigo por ter faltado durante todo esse tempo!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Mas quanto tempo? Não
faço ideia. Não consigo ter nenhuma noção de quanto tempo decorreu desde o
momento em que abri meus olhos e estava naquela sala escura, com aquela coisa
se mexendo e vindo na minha direção, até agora. Pode ter sido apenas algumas
horas ou pode, o que me preocupa, ter sido mais do que semanas. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Continuo caminhando.
Sinto que mais algumas horas já se passaram, mas nada mudou. O branco está
absolutamente em todos os lugares, não importa para onde eu olhe. Nem sombras
existem, já que a claridade é total. E isso é pior que a escuridão completa,
acredite.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Sem perder as
esperanças, continuo corredor adentro, até que, ao meu lado direito, uma porta
– que eu não havia visto até então – se abre. E eu saio de lá, igualmente nu.
Sim. Eu. Outro eu. A única diferença entre nós dois é que ele parece estar
muito bem situado naquele ambiente e está segurando uma bandeja prateada com
aquelas tampas redondas e pomposas – enquanto eu, provavelmente, estou com a
expressão perdida e sem nada em mãos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Ao me ver, o Outro Eu
sorri de uma forma que me deixa muito perturbado, como se soubesse de coisas
que não sei e estivesse satisfeito com isso. Ele então segura a tampa da
bandeja com a outra mão e a levanta, revelando o que traz consigo e oferecendo
a mim. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Um telefone normal.
Nada além de um telefone comum, que qualquer pessoa tem em casa. Casa. Será que
ele – eu –<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>está me dando a oportunidade
de ligar pra casa e tranquilizar meus pais? Não. Não parece ser isso. Sempre
fui de levar em conta minha intuição e poucas vezes estive errado. A razão
desse telefone estar sendo oferecido a mim é outra.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Me ocorre de
perguntar algo ao meu outro eu, mas de alguma forma sei que ele não será útil.
Pode parecer imbecil da minha parte, visto que ele saiu de uma porta com algo
para mim e carrega no rosto uma expressão confiante. Mas... não. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Talvez a resposta
esteja atrás daquela porta. Quando estou prestes a dar meu primeiro passo para
invadi-la, o telefone toca. Eu olho para o Outro Eu, e ele apenas me olha de
volta. Percebo que a ligação é pra mim. Pego o telefone, coloco-o sobre o
ouvido. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">E digo: “Alô?”</span></div>
Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-46587977101834467432013-07-31T01:29:00.001-03:002014-08-16T20:01:34.681-03:00Des-consciente (parte 2)<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 120.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<style>
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<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Me sinto preenchido. Preenchido de uma forma estranha e
diferente, como eu jamais havia sentido antes. Nada parecido com um orgasmo. Ou
com aquele tapa na cara de alguém que te irrita demais. É algo muito além disso
tudo.</span><br />
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 120.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Mas, ao mesmo tempo, é estranho. No momento em que essa
coisa – que eu continuo sem saber o que exatamente é – retorna a mim, a sala
escura torna-se mais clara. Lenta e gradualmente, como uma gota quando toca a
superfície de um lago calmo. E eu sou essa gota. A partir de mim, a sala começa
a ser invadida por uma luz amarelada e quente. </span>
</div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 120.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Mas eu continuo com muito frio, e me sinto deslocado dessa
sala. Ah, sim, agora consigo ver onde me encontro, e não é nada além da minha
sala de estar. Até a televisão estragada, que empoeirava em cima de um móvel
antigo, estava ligada.</span>
</div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 120.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Mas... ela está funcionando corretamente. Sintonizada em
algum canal passando imagens aleatórias de um homem jovem e sorridente, cuja
fisionomia não me é estranha. Parece meu pai. Acho que... não. Não pode ser.
Sou eu. Mas não lembro de ter vivido as coisas que estão passando naquela velha
televisão. Não lembro de ter surfado com um filho – que sequer existe. Não
lembro de ter casado num belo campo e, mais assustador, com uma bela mulher –
que sequer conheço.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span>
</div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 120.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Mas está tudo acontecendo. Ou melhor. Tudo aconteceu e foi
gravado, tanto é que estou assistindo à minha própria vida. Será que perdi a
memória? Mas então o que estou fazendo aqui? Não, acho que não foi isso. Essas
coisas não foram vividas por mim, mesmo que essa televisão velha da minha mãe
tente me desmentir. Eu sinto que não vivi. Sinto que ela está tentando me dizer
alguma coisa com essas cenas todas. </span>
</div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 120.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Mas eu (ainda) não sei de nada. De repente, a televisão
desliga. E, com ela, as outras luzes da sala. Sinto mais frio ainda. E me dou
conta novamente de que meu corpo não está como sempre foi. Na verdade, com a
súbita escuridão que domina aquela sala antes iluminada, me sinto como uma
sombra – sem forma, mas pensante. </span>
</div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 120.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Mas. Mas. Mas. Mas. Mas. São tantos ‘mas’ que não sei mais o
que pensar. Minha vida não-vivida, mas gravada. Minha atual existência aparentemente
incorpórea, mas consciente. Essa ‘coisa’ que está em mim, mas não sei o que é. </span>
</div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 120.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Ainda parado naquele ambiente totalmente escuro, sem ter
para onde olhar ou mesmo como me mexer, eu espero. Espero por alguns minutos,
que logo se transformam em horas, que logo se transformam em dias. Ou será que
não passou tempo algum? Difícil dizer. Impossível, na verdade.</span>
</div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 120.0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Até que um flash ilumina aquela sala. Um flash súbito e
cegante, com menos de um segundo de duração. Consegui vislumbrar apenas paredes
muito brancas e aparentemente sem fim. Antes de conseguir digerir essa
informação, um barulho agudo e ensurdecedor racha meu crânio, mesmo que eu
aparentemente não tenha um. E o que resta de mim perde a consciência. E, se eu
sou apenas consciência, me perco.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span>
</div>
Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-61207088193545708382013-07-30T22:25:00.000-03:002013-07-30T23:43:31.706-03:00Des-consciente (parte 1)
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--></style><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Abro os olhos. Não enxergo nada. Fico em dúvida se estão
realmente abertos. Mas... eles estão – percebo isso porque a escuridão desaparece
lentamente e meus olhos agora conseguem discernir formas difusas à frente.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Estranho. Alguma coisa parece estar se mexendo. E mais
estranho ainda: parece estar vindo na minha direção. Não sei se estou sentado
ou em pé. Nem mesmo sei se meus pés estão no chão. Se eu tenho pés. A sensação
que tenho é a de ser apenas uma consciência sem forma parada no meio daquela confusa
sala escura. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Aliás, confuso estou eu. Não me restam dúvidas de que algo
se aproxima. Mas eu simplesmente não faço ideia do que possa ser. Penso em me
mover, mas realmente apenas ‘penso’, porque nada acontece quando tento
transferir este comando para minhas pernas. (Pernas?) </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A escuridão é quase total. E a ‘coisa’ – cujos contornos são
difusos – está muito próxima. Se eu esticasse meu braço, poderia tocá-la. O
problema é: não consigo fazer isso. E o curioso é que mesmo tão perto não
consigo ter ideia do que seja. E então...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Ela me toca. Não. Ela me preenche. Não. Ela entra em mim.
Não. Ela se torna eu. Não. Eu me torno ela. Não. Nós apenas nos reencontramos. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Sim.</span></div>
<br />Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-27442146936144594142013-05-05T13:02:00.000-03:002013-05-05T13:08:19.240-03:00Tumulto<div style="text-align: justify;">
No centro daquela movimentada cidade, todos que passavam tinham pelo menos uma
coisa em comum: a pressa. Passos ligeiros, pensamentos distantes e olhos
desfocados faziam das pessoas não mais do que robôs tentando chegar aos seus
objetivos – sejam eles o trabalho, escola, faculdade ou qualquer outro tipo de
compromisso. No meio desse emaranhado de gente tentando caminhar na apinhada e
suja calçada, um menino franzino tentava a sorte.
– Moço, o senhor pode me ajudar? – A criança sorriu, tímida. Seus olhos possuíam
uma luz fraca, do tipo que já cansou de brilhar devido às peças pregadas pela
vida.</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">–
Ah, tô sem nada de dinheiro aqui, rapaz.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>– Disse o apressado homem, que já há algum tempo não parava para
apreciar o mundo e as maravilhas que acontecem nele a todo momento. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">–
Oi? Mas... eu não quero dinheiro! – E seu sorriso vacilou. Era isso que todos
diziam antes de sumirem no mar de gente novamente. Mas, dessa vez, o garoto
estava decidido a ter o que tanto queria. Correu atrás do homem, cutucando-o
nas costas. Ele se virou, e dessa vez parecia irritado.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">– Onde tá sua mãe, hein? Ela deveria estar
trabalhando em vez de te fazer pedir esmola aqui no centro!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">– Eu
não quero o seu dinheiro, moço. Tenho o que comer, apesar de não ser muito e
nem de longe se parecer com aquilo que você come. – E, de uma vez por todas,
percebendo que o homem parecia curioso, o menino pediu. – O que eu quero, de
verdade, é um abraço apertado. Minha mãe trabalha todo dia pra poder nos
sustentar, e não sobra tempo pra... essas coisas. E eu sinto falta.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">E
antes que pudesse continuar falando, o antes apressado homem, vestido com uma
camisa social e calça jeans de uma marca cara, abaixou-se e envolveu o garoto
com seus braços. Sentira uma imensa sinceridade saindo daquela boca, assim como
uma carência por afeto muito maior do que seria aconselhável. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">O
garoto não precisou falar mais nada. Aquele abraço era tudo que precisava. E
exatamente da maneira que precisava. Depois de alguns instantes nesse ato que
pareceu eterno, o garoto pensou que seria educado agradecer. Mas, antes que
pudesse, as pessoas começaram a empurrar de todos os lados, e o homem e o rapaz
foram separados. Cada um pro seu lado. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Um,
completamente extasiado com a experiência. Primeira vez em muito tempo que percebeu
as coisas ao seu redor, que deu atenção à algo que não sua falta de tempo ou
colegas de trabalho. Ao abraçar o garoto, sentiu que um grande peso saia de
seus ombros e uma enorme sombra desabrigava-se de sua visão. Sentia-se vivo
novamente. Orgânico. Capaz de sentir e transmitir emoções. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">O
outro obtivera tudo que queria. Um grande e sincero abraço que dispensou
qualquer palavra subsequente, pois a emoção alojara-se toda no espaço existente
entre os braços entrelaçados: o peito. O coração. O garoto não sentia mais fome
de carinho. Podia ir pra casa feliz e satisfeito. Tinha uma sensação esquisita
também: que, de alguma forma, ajudara o homem. Libertara-o de si mesmo, das
amarras que ele mesmo havia construído. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">E
isso deixava todo mundo mais feliz. Naquela cidade que nunca para, que tá
sempre atrasada e que sequer tem tempo pra manifestações de carinho, a
esperança havia sido novamente acesa.</span></div>
Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-16336964188691403372012-10-10T17:45:00.000-03:002012-10-10T17:45:55.506-03:00ContrasteO homem anda ali, naquela escura ruela, revirando latas de lixo, expulsando ratos de onde ele espera que esteja a comida - os restos de um qualquer - que lhe dará sustentação para mais uma triste noite dormindo debaixo de jornais. A arte da sobrevivência.<br />
<br />
Lá, não muito longe, uma senhora planeja a festa de dez anos de idade de seu gato gordo. Muitos convidados, um salão devidamente pomposo e decorado, um cardápio vasto para os animais de estimação das outras senhoras. Lindo, chique. Sem dúvida estará na coluna social do jornal.<br />
<br />
Certo dia, esse mendigo, abandonado pela família e sem nenhum nível de instrução, passa por essa senhora, vinda de uma família abastada e viúva de um famoso empresário. Ambos se olham: ela com asco, superior e segurando sua bolsa com mais força que o normal. Ele, de maneira simples, com humildade e cansaço no olhar.<br />
<br />
Engraçado. <br />
Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-18897432231426993032012-08-27T18:28:00.002-03:002012-09-01T13:15:29.179-03:00Sombra<div style="text-align: justify;">
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--</style>Angústia percorre em minhas veias e a cada batida do meu coração sinto-o afundar em meu peito. Por que sinto isso? Por que essa coisa não me deixa sorrir ou aproveitar com quem me importa? Não sinto vontade de coisa alguma. Ou melhor, sinto sim: a de dormir. Entre sentir o que sinto agora ou sentir nada, fico com a segunda opção.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Minha mão se põe sobre meu peito. Ergo meu rosto. Fecho meus olhos. A dor é insuportável. Por que fazem isso comigo? Ou será que a culpa é só minha? Existem explicações científicas para o que sinto. Eles vão argumentar alguma coisa que praticamente ninguém vai entender. A ciência acha que consegue explicar tudo... Mas eu sei que isso aqui não tem nada de científico. Sou eu e minha alma. Apenas eu, meu ser, meu sofrimento, minha dor.<br />
<br />
A escuridão escorre em meu interior e se espalha dentro de mim. Algo molhado. Frio. Excruciante. Dormente. Percebo que em meu corpo não cabe mais isso que sinto. E percebo na hora em que essa sombra está ao meu lado. Erguendo-se sobre mim como uma poderosa força. A manifestação externa. O excesso do que está dentro de mim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Além da agonia e da angústia, agora sinto outra coisa. Algo que se ergueu dentro de mim como a sombra o fez ao meu lado. Medo. Sinto muito medo.</div>
Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-35190938070692399392012-07-31T20:52:00.000-03:002012-07-31T20:52:05.375-03:00Nostalgia<div style="text-align: justify;">
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--
</style>É engraçado. Essa sensação. Me sinto fisgado pelo umbigo pra dentro de mim mesmo. E não faço ideia de como e porquê isso tá acontecendo. Estava em casa, sozinho no meu quarto, quando tudo começou a se desmanchar e eu senti aquilo. Um frio na barriga maximizado. Muito estranho. Simplesmente aconteceu. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />Realmente não tô entendendo nada. Um segundo atrás estava em casa, no meu quarto, me arrumando pra ir ao meu aniversário de 18 anos. No segundo seguinte, nada mais daquilo existia. E ao meu redor todo um novo cenário havia se criado. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Me encontrava agora em um grande cômodo cheio de balões verdes e brancos. Engraçado, isso não me é estranho. Decido caminhar em direção a um portal que parece dar para outra grande sala. Passo por algumas mesas decoradas e penso que talvez possa estar em uma festa... <br /><br />Ao passar pelo portal, me deparo com uma cena desconcertante e, de certa forma, assustadora. Minha mãe, com cabelos longos e escuros, está abraçada ao meu pai, que estranhamente tem a cabeça coberta por cabelo (o que é bem estranho mesmo), já que cresci com ele reclamando da calvície. <br /><br />Aumento meu campo de visão e me deparo com muitas outras pessoas ao redor deles. Meus tios, tias, avôs, avós e pessoas desconhecidas. Todos parecem mais jovens, e isso assusta. Porém, o que mais espanta, é o fato de todos estarem paralisados. Total e simplesmente imóveis. Vou chegando mais perto do aglomerado de pessoas e vejo que meus pais estão atrás de uma grande mesa cheia de docinhos, balões, salgadinhos e um grande bolo na frente deles. Mas isso é o de menos: eles não estão abraçados um ao outro, e sim com um menininho mais a frente enganchado em ambos. Eufórico, mas com vergonha. <br /><br />Ao lado desse menino, vários outras crianças estão congeladas no meio das palmas. Percorro o olhar por cada uma delas e, ao chegar em uma menina com densos e inconfundíveis cabelos loiros, me dou conta de tudo. A menina é a minha atual namorada, e sempre foi amiga de infância. Isso me faz perceber que o menininho imediatamente atrás do bolo só pode ser uma pessoa: eu. Completando 5 anos de idade, como indica a grande vela verde em cima do bolo. Ela está acesa, mas o fogo – assim como todo mundo lá, exceto eu – tá parado. Totalmente paralisado. <br /><br />Olho pro meu eu de 13 anos atrás e para aqueles outros rostos felizes e despreocupados dos meus ‘amiguinhos’. Engraçado. Nem falo mais com alguns. Outros se tornaram amigos de ‘oi, tchau’. Só dois daqueles todos permanecem firmes em minha vida: a loirinha do meu lado - somos namorados faz dois anos – e o garoto mais alto entre todos aqueles ali, que é meu melhor amigo até hoje. <br /><br />Num ímpeto de nostalgia, sinto vontade de interagir de alguma forma com aquilo tudo a minha volta. E num impulso, levo o indicador e o polegar direito à boca, umedeço com saliva e apago o fogo. Ou melhor, não sei se apago. Não sinto direito o que acontece, a textura dele parece mais elástica, mais sólida. <br /><br />Só o que sei é que, no momento em que toco o fogo, tudo ao meu redor parece descongelar: ouço o tradicional ‘parabéns pra você’ sendo cantado por todos, o som de palmas e das pessoas rindo. Vejo sorrisos e olhares. Palmas em sintonia e aquela pequena chama bruxuleante refletindo nos olhos do pequeno garoto que está completando cinco anos. Creio que ninguém notou minha presença, e dessa forma me aproximo da mesa, dou a volta e fico atrás do meu eu mais jovem, no meio dos meus sorridentes e animados pais. <br /><br />Ao fim da música e das palmas, o garoto se inclina a frente para assoprar a vela. Me abaixo junto, colocando as mãos em seus ombros pequenos. Os meus ombros. Então, juntos, assopramos a vela e apagamos a chama. 5 anos. 18 anos. <br /><br />No momento em que o pavio se apaga totalmente, ouço mais palmas e exclamações de felicidade. Tudo isso vai ficando mais distante até que sinto um grande puxão no umbigo e, em um breve instante, a festa, as pessoas e o barulho simplesmente desaparecem. <br /><br />Tô no meu quarto, deitado na cama. Atrasado pra minha festa de 18 anos.</div>
<style>
</style>Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-70721058739169042812012-07-31T17:38:00.000-03:002012-08-01T14:16:53.806-03:00Afundando<style>
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<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O
que acontece? Minha cabeça dói e meus olhos me enganam. A mulher ao lado, gorda
e baixinha, me olha de canto. Não sei o que está acontecendo comigo, mas estou
enxergando milhares de pontos pretos que se dilatam cada vez mais e invadem
minha vista.</span> </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">As
cores. O mundo. Tudo desaparecendo. Sendo expulso. E eu em pânico. Não sei o
que fazer. Será que estou ficando cego? Mas não faz sentido. Alguns minutos
atrás estava nesse mesmo banco em que me encontro, observando os pássaros e as
crianças brincando, além da idosa com aparência simpática – a que agora me olha
assustada -, jogando pedacinhos de pão aos pombos. </span><br />
<span style="font-size: small;"> </span><br />
<span style="font-size: small;">Quase
não vejo mais nada. Apenas algumas pequenas brechas entre essas esferas negras
que inundam minha visão permitem que eu enxergue as cores e formas que antes
dominavam meus olhos. Viro minha cabeça para o lado e a senhora continua ali,
agora me encarando sem vergonha. Há uma grande escuridão na maior parte de seu
rosto enrugado, mas consigo ver sua boca e perceber que se dirige a mim.</span><br />
<br />
<span style="font-size: small;">- O
que você tem, meu filho?! Está pálido e suando frio! – e após uma pausa
considerável, se levanta olhando ao redor – Vou chamar alguém agora mesmo.</span><br />
<br />
<span style="font-size: small;">Ela
sai mancando com sua bengala, deixando a sacolinha plástica com pedaços de pão para
trás. Ouvi o que ela disse, porém de maneira distante. Como se meus ouvidos
estivessem cada vez mais longe de onde estou – proporcionalmente com a visão,
que praticamente está nula agora.</span><span style="font-size: small;"></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;">Tento
gritar. Mas nenhum som parece sair de minha garganta. A única consciência que
tenho é a de estar afundando em mim mesmo. Num abismo que parece estar dentro
de meu ser. Estou assustado. Tento gritar mais uma vez, porém nada acontece. Mal
consigo abrir minha boca.</span><br />
<br />
<span style="font-size: small;">Sem
visão. Agora só existe negrume. Sem audição. Ouço apenas meus pensamentos. Minha voz também sumiu e percebo que não sinto
mais o banco em minhas costas, o sol sob minha cabeça ou mesmo as roupas em meu
corpo. Não sinto nada.</span><br />
<br />
<span style="font-size: small;">Pelo
menos ainda penso. Será que continuo no banco? Podem estar fazendo qualquer
coisa comigo. Será que a praça ainda está lá? Será que a idosa conseguiu ajuda?
Será que eu ainda existo? Será...?</span></div>Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-91979995105719275542012-05-23T10:02:00.000-03:002012-07-07T21:28:44.221-03:00Salto alto<div style="text-align: justify;">
Gargalhadas. Não conseguia parar. Assistir àquele espetáculo era algo que realmente me prendia. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fui caminhando até onde estava aquele 'pobre homem'. Caído. Meio torto. Amontoado no chão imundo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Percebi que ainda segurava o isqueiro em minha mão esquerda. Larguei-o no chão, causando um baque surdo que ecoou naquele ambiente úmido e assustador. O homem se mexeu alguns centímetros. Meu pai. Sofrendo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Coloquei o salto do meu belo scarpin sobre sua mão espalmada. Apertei. Conforme pressionava com mais força, seu grito de dor ia surgindo. Tirei meu outro pé do chão, colocando todo meu peso no salto do sapato que continuava firme na palma de meu pai, enquanto mantinha o equilíbrio apoiando minha mão na parede.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ouvi o barulho de algo rasgando ao mesmo tempo em que sentia meu salto afundando em sua mão, tocando o chão repentinamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um urro de dor emergiu de sua garganta durante estes segundos, e eu tirei meu pé dali, abaixando-me um pouco para poder ver o que tinha feito.<br />
<br />
</div>
<div style="text-align: justify;">
Havia um rombo e muito sangue. Ops. Acho que furei sua mão.</div>Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-34920695168421010092012-04-16T17:10:00.000-03:002012-04-16T17:11:05.136-03:00Devaneios e decisões<div style="text-align: justify;">
O vento uivava. As árvores se reviravam. O tempo era de muito frio. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Porém, dentro de um apartamento a salvo dessas intempéries, se encontrava Lúcia. Aninhada em uma poltrona fofa, ela pensava. Pensava muito. Suas pernas estavam junto ao corpo, e a cabeça repousava sobre os joelhos. A matéria de seus pensamentos era bem ampla e, ao mesmo tempo, bem específica: os rumos que sua vida estava tomando.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Enquanto seu cérebro se embrenhava por caminhos tortuosos, seu olhar pairava em uma janela meio suja ao seu lado. Lúcia tomava um café bem quente e doce, e, em sua mente, concluia de que nada se arrependia. "Faria tudo de novo", afirmava.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pensou em seu pai e não aguentou: deu uma grande e sincera gargalhada. Aquilo foi, definitivamente, muito divertido. Ele provavelmente estava, nesse momento, boiando em algum rio. Apodrecendo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Lúcia então levantou-se de chofre. Colocou seus sapatos, enganchou a bolsa no ombro e passou a mão pelos cabelos, se olhando no espelho. Estava linda, como sempre. A roupa estava impecável, pois tinha chegado não fazia muito tempo. Então saiu. Trancou a porta, desceu as escadas e pôs-se a caminhar pela rua. Havia tomado sua decisão.</div>Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-90977801172807532822012-04-14T23:27:00.000-03:002012-04-14T23:27:31.367-03:00SentimentoVocê e eu. Tudo que eu preciso. Não quero ser clichê, mas é verdade. Sinto um vazio quando estamos separados, e a felicidade me invade de uma maneira transcedental quando estamos juntos - mesmo que apenas rindo ou conversando. Penso em você a todo instante, e isso me deixa bem, porque sei que você me pertence. Seu coração é meu, assim como o meu é igualmente seu.Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-18833738509754738262011-11-19T01:29:00.000-02:002011-11-19T01:29:47.995-02:00Perdido<div style="text-align: justify;">Corro sem destino, busco pela luz. Ela foge de mim, e o que me acompanha são as sombras. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Sombras que sussurram em meu ouvido coisas que não quero ouvir, que me fazem duvidar da possibilidade de achar a luz. A tal luz que me fará sorrir e acabará com meus pesadelos. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Tropeço uma, duas, três vezes. Não desisto. Perco a direção e me afasto do suposto caminho cuja intuição era minha guia. Não faz diferença. Estou tão embrenhado na escuridão que a única coisa que faço, sem perceber, é andar em círculos. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">As sombras não mais sussurram: elas gritam. Me ensurdecem.</div>Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-63187285621773557102011-04-05T00:27:00.001-03:002011-04-05T00:30:02.473-03:00<div style="text-align: justify;">Você pode pagar por um par de tênis, por um ingresso para assistir ao novo filme de Hollywood e por um telefone celular recém lançado. Sim, você pode, e o mundo diz que você deve fazer isso. Senão, obviamente, você não é tão bom quanto o seu colega. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Você pode pagar por vastas e inúmeras coisas, mas nunca poderá ter através do pagamento algo que não custa nada - mas vale muito mais do que qualquer quantia. Momentos. Momentos que serão difíceis de esquecer, como ganhar uma corrida e sentir aquela sensação de triunfo indescritível; assistir a um filme romântico ao lado daquela pessoa que faz você sentir especial; ou então, quem sabe, falar durante horas com seu pai, que está longe e você não o vê há vários meses.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Você pode pagar pelos objetos, mas não pelas situações. Pode, pode sim. Mas também pode usufruir de seus amores e temores sem precisar comprar tanto, sem precisar aderir dessa maneira tão selvagem ao capitalismo, que mais destroi do que constroi. É fato que alguns momentos derivam de objetos, de 'coisas' compradas, porém são consequências livres, apenas. A sua felicidade, sua plenitude, não depende do que você tem, mas do que você é constituído emocional e eticamente.</div>Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-67545081600823123252011-03-26T15:05:00.001-03:002011-03-26T17:38:52.016-03:00Razões<div style="text-align: justify;">A morena abre a carta, sentada em sua poltrona, e dá um sorriso debochado ao identificar a caligrafia cuidadosa de seu pai. Permanece séria enquanto seus brilhantes olhos percorrem linha após linha.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><i>"Lúcia querida, minha filha amada.</i></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><i>Eu e sua mãe estávamos passando por muitas brigas. Diariamente, nos desentendíamos por bobagens... e isso se tornou cada vez mais frequente e sério. Eu não podia deixá-la, já que seu quadro clínico não era dos melhores e sua pequena irmã, Lívia, sofreria ainda mais. Você sabe, não escondemos de você e de sua irmã mais velha: o câncer estava progredindo e atingindo outras partes do corpo. Por isso, mesmo que brigassemos bastante, eu estava sempre ali para auxiliá-la e socorrê-la, caso precisasse. A situação estava incontrolável, eu não aguentava mais. Mas precisava continuar: por ela, por nossas três filhas.</i></div><div style="text-align: justify;"><i><br />
</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Nesse mesmo dia que tudo estava dando errado e tivemos uma briga especialmente feia, eu conheci Carolina. Ela é doce, sincera e compreensiva. Não falei sobre sua mãe e ela nada perguntou. Começamos a nos envolver mais seriamente. Sempre que acontecia algo mais sério entre mim e sua mãe, Carolina me ajudava a esquecer, me fazia suportar mais um dia de sofrimento, estresse e preocupação. </i></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><i>Você precisa entender que o que aconteceu não foi minha culpa. Não foi culpa de absolutamente ninguém, além do acaso - ou destino, como queira. Depois de uma briga, fui ver Carolina, como de costume, e sua mãe ficou em casa costurando. Como eu ia saber, querida, que o pior aconteceria nas poucas horas que fiquei fora? Ninguém sofre mais do que eu com isso. Desde o falecimento de sua mãe - minha amada esposa, sim -, eu não vejo Carolina. Não consigo mais. Mariana é a única da família que me ajuda e, graças a Deus, levou Lívia consigo para cuidar, já que nossa pequena era a única que estava em casa e nada podia fazer para salvar sua 'mamãe'.</i></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><i>Eu preciso do seu perdão. Sei que você é diferente das outras duas, inclusive da pequena Lívia, mas precisa me perdoar. Precisa esquecer isso. Eu sofro tanto quanto você, acredite. Te amo muito, muito, muito.</i></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><i>Com carinho, seu pai."</i></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Após a leitura, algumas palavras permaneciam em sua cabeça. "amada", "câncer", "incontrolável", "perdão", "Carolina"... Lúcia fechou a carta e, devagar, amassou-a. Caminhou até a lixeira e soltou o papel ali. Deu um sorriso frio e murmurou:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><i> </i></div><div style="text-align: justify;">- Claro, papai. Você será perdoado. Amanhã mesmo nos veremos...</div>Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-46478198453167312202011-01-06T19:53:00.001-02:002011-03-26T14:35:13.536-03:00Danço<div style="text-align: justify;">No palco eu me liberto. Aqueles poucos minutos onde tudo é possível, onde faço de meu corpo o instrumento catalisador da mais pura arte. Sou movimento, música, sentimento. Sou arte. Em minhas veias corre o sangue, a adrenalina. Porém muito mais que isso, corre energia. Aquela energia que me faz percorrer o palco muito mais do que executando movimentos, mas explicitando idéias e jorrando sentimentos para todos que assistem, emocionando, tocando-os. </div>Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2613000079344096698.post-56282734644362292732011-01-03T14:08:00.000-02:002011-01-03T14:08:57.633-02:00Experiência.s<div style="text-align: justify;">Música, luzes. Homens gritando e rindo, mulheres dançando. Seduzindo. Tudo no mesmo ambiente. Um calor de matar. É, eu esperava por isso. Falando de modo chulo, o puteiro mais famoso da cidade - e caro também. Pelo que via, valia a pena. As garotas ali eram lindas e muito, muito gostosas. A primeira cena que vi quando entrei foi uma mulher sentada no colo de um velho de uns sessenta anos rebolando ao som daquela música provocativa sob as luzes dançantes. Desviei o olhar, ajeitei meu paletó e passei a mão no cabelo. Estava agora perto de um imenso balcão onde várias mulheres seminuas - beldades, na verdade, apenas de calcinha - dançavam e rebolavam, indo até o chão e levando aos céus a excitação dos que as assistiam. <br />
<br />
Admito que eu já estava, digamos, fora de mim quando me ajeitei em uma cadeira e coloquei meu casaco ao lado. Antes que percebesse, uma linda ruiva de uns vinte e poucos anos estava na minha frente, com um bloquinho e uma caneta em mãos, pronta para anotar meu pedido. Ela vestia um vestidinho simples, muito curto, e um avental que, propositadamente - creio eu -, instigaram ainda mais minhas fantasias. <br />
<br />
- O que vai querer, meu amor? - Disse ela, mordendo a ponta da caneta e me olhando.<br />
</div><div style="text-align: justify;">- Um martini, apenas. Pra começar. - Respondi, percebendo aqueles olhos verdes dela, brilhando. Sorri quando me deu uma piscadela e, jogando os cabelos vermelhos para trás, virou-se de costas e foi em direção ao bar.<br />
<br />
Fiquei admirando as beldades que dançavam quase hipnoticamente enquanto minha bebida não chegava. Logo, muito inesperadamente, eu a vi. Mais linda do que todas as outras. Aliás, linda era pouco. Aquela mulher parecia ser irreal, tão maravilhosa que era. Estava a um canto, sem dançar ou demonstrar qualquer interesse no que acontecia ao seu redor. Ela era fascinante. <br />
<br />
Quando a bela ruiva - que em comparação com aquela outra parecia tão simples e comum - trouxe meu martini, eu decidi.<br />
<br />
- Então… como posso te chamar? - Perguntei, com um sorriso no rosto.<br />
</div><div style="text-align: justify;">- Eva. Apenas Eva. - Falou ela, me olhando de cima a baixo.<br />
</div><div style="text-align: justify;">- Ótimo. Então, Eva… Quem é aquela morena parada ali no canto? - Questionei, cuidando para não demonstrar demasiado interesse, modulando minha voz.<br />
</div><div style="text-align: justify;">- Ah, ela. - resmungou, repentinamente irritada. - É a Lúcia. Trabalha aqui apenas… você sabe, com programas. Mas é nova, hoje é sua primeira noite.<br />
</div><div style="text-align: justify;">- Ela é muito linda. - Eu disse, olhando pra ela. <br />
</div><div style="text-align: justify;">- É o que disseram vários homens hoje. Mas nenhum tinha o necessário pra tê-la, se é que me entende. Pode tentar. Se tem bastante dinheiro aí com você, vai lá. Fala com ela. - Eva falou, visivelmente querendo parecer indiferente. Mordia a caneta e, quando percebeu meu olhar sobre Lúcia, fez um muxoxo de impaciência. - Ela tá no topo por aqui. Chegou hoje e já é a mais cara de todas. Não sei porquê, mas… - Devaneou Eva, revirando os olhos e clicando a ponta da caneta repetidamente.<br />
</div><div style="text-align: justify;">- Ok, muito obrigado, Eva. - Eu disse sorrindo, colocando a mão no bolso da calça e tirando minha carteira. Peguei algum dinheiro lá de dentro, sem olhar, e entreguei a ela. <br />
</div><div style="text-align: justify;">- Ah, eu que agradeço, docinho. - Abrindo um sorriso pra mim, pegou o dinheiro e colocou entre os peitos. Mordeu os lábios, me deu uma olhada e se virou, caminhando para o bar. <br />
<br />
Lúcia. Então esse era o nome daquela divindade. Tomei um gole do meu martini, pus a carteira de volta no bolso e levantei. Lúcia então se virou e seu olhar parou exatamente em mim. Seu olhar era profundo e algo nele me amedrontou, mas eu não desviei. Mantive meus olhos cravados nos seus até que estávamos bem próximos. Sorri, mas me senti imensamente fraco e inexperiente - coisa que definitivamente eu não era - perto dela. Lúcia se mantinha séria e absoluta sob seu vestido vermelho e sedutor. Tinha um corpo lindo, mas seu rosto me hipnotizava. Então ela quebrou o silêncio.<br />
<br />
- Oi. Eu sou Lúcia. - Falou, me dando um sorriso. Um sorriso que gelou meus ossos, mas ao mesmo tempo uma vontade voraz de dominá-la, tocá-la, tê-la, me invadiu de uma maneira nunca vista. Eu precisava dela. </div><div style="text-align: justify;"><br />
- Meu… meu nome é Carlos. - Eu me apresentei, meio atordoado. Ela era deslumbrante, porém seus olhos eram frios e indiferentes. Mas muito - absurdamente - sedutores, assim como toda sua figura. </div><div style="text-align: justify;"><br />
- Quer alguma coisa comigo? - Ela falou, séria, me analisando. Sentia aqueles seus olhos cravados em mim, como se me escaneasse. Eu tentei voltar à minha pose antiga.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Sim. Eu quero você. - Tentei ser o mais direto possível, assim como ela foi.<br />
</div><div style="text-align: justify;">- É, eu sei, todos querem. Tem dinheiro aí? - Ela deu um sorriso que não chegou aos seus olhos e me fez desejá-la ainda mais. Aquele mistério por trás dessa máscara de frieza.<br />
</div><div style="text-align: justify;">- Tenho, muito. E estou disposto a usá-lo todo com você. - Falei, pegando minha carteira, afobado.<br />
</div><div style="text-align: justify;">- Essa parte não é comigo. Você paga ali, com aquele homem alto. - Lúcia me disse, apontando para um homem no balcão central, de aparência forte e violenta.<br />
<br />
Fui até lá, com a carteira em mãos, e tirei quase todo o dinheiro que estava lá dentro. O homem notou minha presença e continuou a me olhar. Lhe entreguei o dinheiro e disse que queria Lúcia. Ele assentiu, sorrindo. Se divertindo. Eu estava ansioso, e o homem apenas me entregou um papel e fez sinal positivo. Liberado.<br />
<br />
Caminhei até ela, a bela e sedutora mulher. Ela estava parada me olhando, e estendeu a mão. Eu lhe entreguei o envelope. Ela abriu, leu e deu um um pequeno sorriso. Passou a mão pelos cabelos assentando-os pra trás e novamente me encarou. Ficou séria e disse:<br />
<br />
- Então você será meu primeiro cliente. Vamos lá. - E começou a caminhar em direção à uma escada. Eu a segui, sorrindo, satisfeito comigo mesmo. <br />
<br />
Subimos as escadas e caminhamos por um corredor mal iluminado e, pode-se dizer, luxuoso. Dobramos a direita e demos mais alguns passos, até que ela se virou pra mim, séria, e abriu uma porta. Entrei logo depois de Lúcia no aposento. Era espaçoso, limpo e realmente instigante. Ela foi em direção a uma poltrona e, de uma vez, tirou o vestido. <br />
<br />
Eu enlouqueci. Aquele corpo, todo pra mim. A perfeição. Sempre me olhando, ela agora estava apenas de calcinha e sutiã. Ergueu uma sobrancelha, abriu um pequeno sorriso debochado e falou:<br />
<br />
- Sua vez. - E, caminhando para mais perto de mim, disse: - Ou prefere que eu faça isso? <br />
<br />
Como eu mantive silêncio, admirado com aquela mulher, ela começou a tirar minha roupa. Iniciou pelo paletó, atirando-o longe, e logo as coisas começaram a esquentar. Depois de tirar minha camisa, desabotoando-a calmamente e me deixando mais ansioso, partiu para as partes de baixo. Quando fez menção de abaixar para tirar minha calça, eu a agarrei e a beijei. Ela retribuiu. Era um beijo estranho - frio, talvez -, mas conseguiu me deixar mais excitado do que já estava.<br />
<br />
Após alguns instantes, ela se abaixou. Abriu meu zíper, tirou minha calça. Eu estava apenas de cueca, e a ponto de explodi-la. Então, inesperadamente - pois esperava que ela levantasse agora -, senti sua boca lá. Quase não agüentei durante todo o tempo. Não preciso nem falar o quê. Quando estava prestes a atingir os céus, ela parou. Levantou-se e, sem me beijar, foi para a cama. Fui atrás, ansioso. Agora era minha vez de tirar suas peças de roupa remanescentes.<br />
<br />
Depois de algum tempo retribuindo o que ela fez, decidi que estava na hora. Contemplei seu corpo por um instante e fiz o que deveria ser feito. Durante algum tempo, apenas aproveitei a sensação de estar invadindo seu corpo: o corpo escultural daquela mulher maravilhosa. Agora entendia porque era a mais cara, mesmo sendo nova. Ela era ótima, parecia que seguia seus instintos de uma maneira que sempre, sem exceção, me oportunizava a melhor sensação.<br />
<br />
Fizemos de todas as maneiras que conseguimos pensar, e no fim eu pensei que teria um ataque no coração, tão intenso foi o orgasmo. Deitei na cama, ao seu lado, após terminarmos, e fiquei arfando durante um tempo, ainda sentindo espasmos. Ela estava apática, sem fôlego também, mas… estranhamente inalterada.<br />
<br />
- Você gostou? - Eu perguntei ainda olhando o teto, recuperando o fôlego e sorrindo. </div><div style="text-align: justify;"><br />
- Eu era virgem. - Repentinamente ela disse. Eu me assustei, virando-me de lado e olhando-a.<br />
</div><div style="text-align: justify;">- Sério? Mas por que você decidiu… - suspirei e falei: - Você sabe.<br />
</div><div style="text-align: justify;">- Eu queria que fosse assim. Mas - e agora foi sua vez de me olhar. - eu não senti absolutamente nada. Eu usei um gel pra que parecesse natural. Todas usam aqui. Não que pra elas seja necessário, - e, mais uma vez, ela olhou para o teto. - mas pra mim foi.<br />
</div><div style="text-align: justify;">- Você não sentiu nada? - Perguntei, me sentindo mal, como se incapaz de dar prazer a uma mulher. - Eu digo, nenhuma excitação ou prazer?<br />
</div><div style="text-align: justify;">- Não. Absolutamente nada. - Concluiu Lúcia. <br />
</div><div style="text-align: justify;">- Mas em um momento você realmente pareceu estar gostando. - Eu disse, mais para melhorar minha auto-estima do que ajudá-la.<br />
</div><div style="text-align: justify;">- Sim, quando eu comecei a te arranhar. E você sentiu dor. - Analisei seus olhos, que brilharam momentaneamente.- Não sentiu?<br />
</div><div style="text-align: justify;">- Eu… Sim, senti. - E então, perguntei novamente. - E isso foi bom?<br />
</div><div style="text-align: justify;">- Não sei, tá bom? - Ela se virou e sentou na cama. - Você pagou, nós fizemos. Agora pode ir embora.<br />
<br />
Então, sem dizer palavra, ela se levantou e foi para o banheiro. Eu fiquei sem ação, me sentindo mal, e logo me ergui também. Me vesti devagar, pensando. Ela era a primeira mulher que não sentia nada comigo. O problema, então, não deve residir em mim.</div>Gabriel Fragosohttp://www.blogger.com/profile/03322874226207656014noreply@blogger.com6