terça-feira, 7 de setembro de 2010

Só felicidade

João só queria ser feliz. Queria alcançar a felicidade pura e plena, e só isso. Só isso? Não é pouca coisa, e se torna complicado justamente por ser tão simples. João, filho de agricultores humildes da zona rural, não tinha muita coisa, mas o que não faltava pra ele era amor. Seus pais trabalhavam muito para dar um estudo decente para o "Joãozinho" (que nem tão Inho era mais) e ainda não esqueciam de amá-lo. Ele poderia ser feliz com aquilo, se não fossem suas aspirações, seus anceios e ambições. Ele queria mais. Queria estudar, estudar muito, e ser um homem muito inteligente e de sucesso. Ele ajudava seus pais no campo, e desejava muito poder dar um descanso pra eles, que já padeciam sob o peso das enxadas.
Então o filho dos humildes trabalhadores foi pra cidade. Pra selva de prédios e afobação. Sentiu-se perdido, logo na chegada, mas determinou-se a seguir em frente. Ser feliz não era fácil, e ele ia se empenhar pra isso. Começou a faculdade de medicina (com ótimas notas no vestibular. Só porque era pobre não podia ser inteligente e esforçado?) e imediatamente obteve reconhecimento entre tantos e tantos sábios. O orgulho de seus pais (apenas dos pais, pois o irmão mais novo havia morrido de pneumonia) o fazia muito feliz, porque sentiu que estava retribuindo todo o amor e esforço dos pais para ele. Depois de alguns anos de trabalho duro pra bancar a moradia e a faculdade na cidade, João estava prestes a se formar. A mãe estava nas alturas de tanta felicidade, e o pai inchava de orgulho. Estão velhos, pensou, mas graças a Deus que ainda estão aqui pra ter seu sonho realizado e me ver formado.
Todos os preparativos prontos. Os pais de João estavam no apartamento que conseguiu financiar, esperando ansiosos para a noite de formatura. O quase médico pediatra (pois queria cuidar das crianças para impedir que sofrimentos como do seu falecido irmãozinho acontecessem de novo) foi ensaiar a cerimônia, e na volta  decidiu parar para pegar um almoço no restaurante e levar para os pais (a mãe não tinha mais condições para cozinhar). A polícia recebeu um alerta de que um homem alto estava prestes a assaltar um restaurante. O restaurante. Disseram também que esse homem era perigoso e tinha uma bomba consigo. Sinal vermelho pros policiais. Enquanto João estava entrando, alegre, no restaurante, a polícia entrava também. João tirava a carteira do bolso, a polícia viu. João cumprimentou o polícial. E ele atirou.
João morreu na hora, culpa do tiro na cabeça. Culpa do policial. Nem seus pais, nem ele, conseguiram alcançar a felicidade, uma coisa tão simples, mas tão prejudicada no mundo de hoje.

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