domingo, 5 de maio de 2013

Tumulto

No centro daquela movimentada cidade, todos que passavam tinham pelo menos uma coisa em comum: a pressa. Passos ligeiros, pensamentos distantes e olhos desfocados faziam das pessoas não mais do que robôs tentando chegar aos seus objetivos – sejam eles o trabalho, escola, faculdade ou qualquer outro tipo de compromisso. No meio desse emaranhado de gente tentando caminhar na apinhada e suja calçada, um menino franzino tentava a sorte. – Moço, o senhor pode me ajudar? – A criança sorriu, tímida. Seus olhos possuíam uma luz fraca, do tipo que já cansou de brilhar devido às peças pregadas pela vida.

– Ah, tô sem nada de dinheiro aqui, rapaz.  – Disse o apressado homem, que já há algum tempo não parava para apreciar o mundo e as maravilhas que acontecem nele a todo momento.

– Oi? Mas... eu não quero dinheiro! – E seu sorriso vacilou. Era isso que todos diziam antes de sumirem no mar de gente novamente. Mas, dessa vez, o garoto estava decidido a ter o que tanto queria. Correu atrás do homem, cutucando-o nas costas. Ele se virou, e dessa vez parecia irritado.

– Onde tá sua mãe, hein? Ela deveria estar trabalhando em vez de te fazer pedir esmola aqui no centro!

– Eu não quero o seu dinheiro, moço. Tenho o que comer, apesar de não ser muito e nem de longe se parecer com aquilo que você come. – E, de uma vez por todas, percebendo que o homem parecia curioso, o menino pediu. – O que eu quero, de verdade, é um abraço apertado. Minha mãe trabalha todo dia pra poder nos sustentar, e não sobra tempo pra... essas coisas. E eu sinto falta.

E antes que pudesse continuar falando, o antes apressado homem, vestido com uma camisa social e calça jeans de uma marca cara, abaixou-se e envolveu o garoto com seus braços. Sentira uma imensa sinceridade saindo daquela boca, assim como uma carência por afeto muito maior do que seria aconselhável.

O garoto não precisou falar mais nada. Aquele abraço era tudo que precisava. E exatamente da maneira que precisava. Depois de alguns instantes nesse ato que pareceu eterno, o garoto pensou que seria educado agradecer. Mas, antes que pudesse, as pessoas começaram a empurrar de todos os lados, e o homem e o rapaz foram separados. Cada um pro seu lado.

Um, completamente extasiado com a experiência. Primeira vez em muito tempo que percebeu as coisas ao seu redor, que deu atenção à algo que não sua falta de tempo ou colegas de trabalho. Ao abraçar o garoto, sentiu que um grande peso saia de seus ombros e uma enorme sombra desabrigava-se de sua visão. Sentia-se vivo novamente. Orgânico. Capaz de sentir e transmitir emoções.

O outro obtivera tudo que queria. Um grande e sincero abraço que dispensou qualquer palavra subsequente, pois a emoção alojara-se toda no espaço existente entre os braços entrelaçados: o peito. O coração. O garoto não sentia mais fome de carinho. Podia ir pra casa feliz e satisfeito. Tinha uma sensação esquisita também: que, de alguma forma, ajudara o homem. Libertara-o de si mesmo, das amarras que ele mesmo havia construído.

E isso deixava todo mundo mais feliz. Naquela cidade que nunca para, que tá sempre atrasada e que sequer tem tempo pra manifestações de carinho, a esperança havia sido novamente acesa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário