Abro os olhos. Não enxergo nada. Fico em dúvida se estão
realmente abertos. Mas... eles estão – percebo isso porque a escuridão desaparece
lentamente e meus olhos agora conseguem discernir formas difusas à frente.
Estranho. Alguma coisa parece estar se mexendo. E mais
estranho ainda: parece estar vindo na minha direção. Não sei se estou sentado
ou em pé. Nem mesmo sei se meus pés estão no chão. Se eu tenho pés. A sensação
que tenho é a de ser apenas uma consciência sem forma parada no meio daquela confusa
sala escura.
Aliás, confuso estou eu. Não me restam dúvidas de que algo
se aproxima. Mas eu simplesmente não faço ideia do que possa ser. Penso em me
mover, mas realmente apenas ‘penso’, porque nada acontece quando tento
transferir este comando para minhas pernas. (Pernas?)
A escuridão é quase total. E a ‘coisa’ – cujos contornos são
difusos – está muito próxima. Se eu esticasse meu braço, poderia tocá-la. O
problema é: não consigo fazer isso. E o curioso é que mesmo tão perto não
consigo ter ideia do que seja. E então...
Ela me toca. Não. Ela me preenche. Não. Ela entra em mim.
Não. Ela se torna eu. Não. Eu me torno ela. Não. Nós apenas nos reencontramos.
Sim.
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