quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Des-consciente (parte 3)

Um zunido estranho está me incomodando. Tão rápido quanto perdi a consciência – ou me perdi, não sei –, eu a recuperei. A escuridão que antes tomava conta de minha visão e parecia invadir meu ser agora não mais existe. Parece que estou deitado. Olho pro teto. Mas até algum tempo atrás eu não era apenas uma consciência sem forma?

Aparentemente, aquele flash não apenas me levou a outro lugar, mas também me devolveu o corpo ao qual eu estava acostumado durante todos esses meus anos de vida. Não sei como e muito menos o porquê de tudo isso. Aliás, eu não estou entendendo nada do que está acontecendo. Absolutamente nada. Só sei que consigo sentir meus pés, meus braços, minhas mãos e todos os outros membros. E consigo sentir, de fato, que estou deitado.

Acima de mim, apenas um teto muito alto e branco. Olho para os lados e só vejo branco. Paredes brancas. Chão branco.  Será que também estou branco?! Por sorte, não estou. E ao me olhar, percebo que estou nu. Olho ao redor, mas não há roupa alguma para vestir. Porém, como também não parece haver ninguém por perto, não me preocupo com isso.

Então, me sento. Este móvel onde estou parece uma daquelas camas de hospital – metálicas e com uma aparência etérea. Me espreguiço, como se estivesse acordando de uma longa e confortável noite de sono. Mas acredito que não tenha dormido – e, se dormi, não foi nem um pouco confortável.

Hora de colocar os pés no chão. E, surpresa!, ele não está gelado como eu havia pensado. É até bom saber que finalmente estou reconectado à Terra. Olho novamente ao meu redor e não vejo absolutamente nada. Apenas um longo e amplo corredor com teto, chão e paredes brancas. Pelo menos, penso eu, não estou numa sala trancado entre quatro paredes.

Decido seguir por aquele longo corredor. Ele parece bem comprido, tanto que não consigo enxergar seu fim, mas em algum ponto ele precisa terminar. E com esse pensamento em mente, começo a caminhar.

Desnudo e descalço, mas consciente, passo após passo vou pensando nas coisas que me aconteceram e nas possíveis razões de terem acontecido, mas nada faz sentido. Nada parece ser a resposta correta pra esse grande enigma em que me encontro. Penso em meus pais e no quanto devem estar preocupados comigo. Penso no meu relacionamento que estava começando a dar certo. Penso no meu trabalho – meu chefe deve estar puto comigo por ter faltado durante todo esse tempo!

Mas quanto tempo? Não faço ideia. Não consigo ter nenhuma noção de quanto tempo decorreu desde o momento em que abri meus olhos e estava naquela sala escura, com aquela coisa se mexendo e vindo na minha direção, até agora. Pode ter sido apenas algumas horas ou pode, o que me preocupa, ter sido mais do que semanas.

Continuo caminhando. Sinto que mais algumas horas já se passaram, mas nada mudou. O branco está absolutamente em todos os lugares, não importa para onde eu olhe. Nem sombras existem, já que a claridade é total. E isso é pior que a escuridão completa, acredite. 

Sem perder as esperanças, continuo corredor adentro, até que, ao meu lado direito, uma porta – que eu não havia visto até então – se abre. E eu saio de lá, igualmente nu. Sim. Eu. Outro eu. A única diferença entre nós dois é que ele parece estar muito bem situado naquele ambiente e está segurando uma bandeja prateada com aquelas tampas redondas e pomposas – enquanto eu, provavelmente, estou com a expressão perdida e sem nada em mãos.

Ao me ver, o Outro Eu sorri de uma forma que me deixa muito perturbado, como se soubesse de coisas que não sei e estivesse satisfeito com isso. Ele então segura a tampa da bandeja com a outra mão e a levanta, revelando o que traz consigo e oferecendo a mim.

Um telefone normal. Nada além de um telefone comum, que qualquer pessoa tem em casa. Casa. Será que ele – eu –  está me dando a oportunidade de ligar pra casa e tranquilizar meus pais? Não. Não parece ser isso. Sempre fui de levar em conta minha intuição e poucas vezes estive errado. A razão desse telefone estar sendo oferecido a mim é outra.

Me ocorre de perguntar algo ao meu outro eu, mas de alguma forma sei que ele não será útil. Pode parecer imbecil da minha parte, visto que ele saiu de uma porta com algo para mim e carrega no rosto uma expressão confiante. Mas... não.

Talvez a resposta esteja atrás daquela porta. Quando estou prestes a dar meu primeiro passo para invadi-la, o telefone toca. Eu olho para o Outro Eu, e ele apenas me olha de volta. Percebo que a ligação é pra mim. Pego o telefone, coloco-o sobre o ouvido.

E digo: “Alô?”

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