domingo, 15 de junho de 2014

Sólido(ão)

Solidão é uma palavra que combina com outros aumentativos. Assim como “grandão”, “amigão” e uma infinidade de outros exemplos, solidão tem essa força em sua entonação final. Ão. Ão. Ão. Tem vontade, tem energia. Tem tamanho.

Palavras assim derivam daquelas que possuem uma dimensão padrão (de novo: ão, ão), como “grande” e “amigo”. E com a solidão não poderia ser diferente – a palavra que denomina seu tamanho normal combina perfeitamente com o significado.

Sólido. Pode parecer paradoxal a palavra que origina o aumentativo “solidão” significar o oposto de abstrato. Mas não. Na verdade, faz todo sentido.

Segundo o dicionário, algo sólido é, entre outras coisas, algo forte e incontestável. Algo que, mesmo com adversidades e interferências externas, mantém-se com a mesma forma – com as superfícies que a delimitam sem transformações ou mudanças. É algo que não sofre interferências. Que não se deixa “ser outro”.

E a solidão? Não podemos esquecer dela. Tudo se encaixa quando percebemos essa etimologia oculta. Solid-ão é tudo isso dito no parágrafo anterior com uma intensidade ainda maior.

É quando a não-interferência é demais. Quando a impossibilidade de ser modificado por forças externas é exagerada. Quando toda essa inacessibilidade do objeto – ou da pessoa em questão – ultrapassa os limites.

Estar sozinho é não ser modificado, polido ou mesmo tocado. Estar sozinho é permanecer da mesma forma. Estar sozinho é estar incapaz de aceitar a possibilidade de ser outro – de ser melhor. De mudar de forma e evoluir.

E aí, nesse ponto, alguém ‘sólido’ passa a ser alguém ‘solidão’.

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