Solidão é uma palavra que combina com outros aumentativos.
Assim como “grandão”, “amigão” e uma infinidade de outros exemplos, solidão tem
essa força em sua entonação final. Ão. Ão. Ão. Tem vontade, tem energia. Tem
tamanho.
Palavras assim derivam daquelas que possuem uma dimensão
padrão (de novo: ão, ão), como “grande” e “amigo”. E com a solidão não poderia
ser diferente – a palavra que denomina seu tamanho normal combina perfeitamente
com o significado.
Sólido. Pode parecer paradoxal a palavra que origina o
aumentativo “solidão” significar o oposto de abstrato. Mas não. Na verdade, faz todo sentido.
Segundo o dicionário, algo sólido é, entre outras coisas,
algo forte e incontestável. Algo que, mesmo com adversidades e interferências
externas, mantém-se com a mesma forma – com as superfícies que a delimitam sem
transformações ou mudanças. É algo que não sofre interferências. Que não se
deixa “ser outro”.
E a solidão? Não podemos esquecer dela. Tudo se encaixa
quando percebemos essa etimologia oculta. Solid-ão é tudo isso dito no
parágrafo anterior com uma intensidade ainda maior.
É quando a não-interferência é demais. Quando a
impossibilidade de ser modificado por forças externas é exagerada. Quando toda
essa inacessibilidade do objeto – ou da pessoa em questão – ultrapassa os
limites.
Estar sozinho é não ser modificado, polido ou mesmo tocado.
Estar sozinho é permanecer da mesma forma. Estar sozinho é estar incapaz de
aceitar a possibilidade de ser outro – de ser melhor. De mudar de forma e
evoluir.
E aí, nesse ponto, alguém ‘sólido’ passa a ser alguém
‘solidão’.
Nenhum comentário:
Postar um comentário