quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Do1s

A luz me cega por alguns instantes. O rapaz tenta me olhar, mas – como eu já sabia – não consegue. Desnorteado, dou alguns passos pra trás em busca de apoio. Coitado... acha que existe alguma superfície tangível por aqui. Ao mesmo tempo em que vejo, não sinto nada – e isso me deixa confuso. Vou caminhando até ele. A luz aumenta e preciso fechar os olhos. Que vontade de gargalhar. A coisa tá chegando mais perto. Passo, passo, passo. Ela parece estar flutuando. Passo, passo, passo. Quero correr, mas não consigo. Estou próxima e começo a me sentir ansiosa. Meus pés não me obedecem. Vou preenchê-lo. Não posso abrir os olhos. Quase posso tocá-lo. Sinto um calor enorme próximo ao rosto. Estendo a mão em direção à sua bochecha. Sinto que vou me queimar. Encosto em seu rosto. As palavras somem. Satisfação. Não queimo. Estou mudando. Me assusto. Me acalmo. Arrisco abrir os olhos. Continuo com minha mão em seu rosto. Luz, luz, luz, luz, luz. Que corajoso. Mas consigo permanecer de olhos abertos. Ele abriu os olhos. Não estou mais cegando. Já deve ter percebido que pode me encarar. Mesmo com essa luz absurda. Mesmo com a minha energia. O que é isso que me toca? Me sinto cada vez menos luz e mais humana. Parece uma mulher, mas é diferente, fluída. Não posso tirar minha mão de seu rosto. A mão segue em minha bochecha. Nunca havia sentido isso antes. Nunca havia sentido isso antes. Um instante. Uma eternidade.

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