O rosto me persegue até em sonhos. O rosto me faz querer
mais. O rosto insiste em mim. E eu insisto em não esquecê-lo.
Aliás, antes fosse apenas o rosto. Cada traço do seu
corpo persegue minha mente com uma força absurda. Me sinto violentado. Me sinto
vazio. Me sinto lotado de você.
Aquelas cenas passam pela minha cabeça como flashes de um
film noir. A estética contrastante, o
clima denso. Você com uma expressão poderosa no rosto – assustadora, tensa,
profunda. A expressão de um assassino, capaz de estraçalhar a sangue frio
qualquer coração desprotegido. O meu coração.
Você tem uma boa mira, sabia? Acertou em cheio. Conseguiu
o que poucos, antes, haviam conseguido. Minha mente não parece entrar em
sintonia com quaisquer outros pensamentos que não sejam aqueles envolvendo você. E
as cenas noir se repetem. E se
repetem. E se repetem. E se repetem.
Estamos, agora, na cena do assassinato. Eu e você na
cama. Um cigarro entre os seus lábios. O êxtase se esvaindo aos poucos. E no
seu corpo – eu sabia – a sensação de plenitude que só um assassinato muito bem
planejado seria capaz de proporcionar.
Você me matou. No quarto daquele hotel barato e
barulhento, você me matou. Me matou com todo o estilo de um matador
profissional. Me seduziu. Me fez ansiar pelo momento em que estaríamos naquele
hotel. Um lugarzinho escondido, nos cantos mais sórdidos da cidade, com quartos
que serviam, basicamente, para dois – ou mais – transarem.
Você me matou. A melodiosa voz de Frank Sinatra se
misturou aos gritos. Aos urros. Aos gemidos. Às manifestações sonoras da
satisfação e do desejo. Sem piedade, me deixou morto naquele quarto
duvidosamente limpo, me entregando – sem pestanejar – às sombras da noite.
A porta se abriu. Você foi. Eu fiquei. Nesse ato obscuro e criminoso, meu coração se rasgou.
A porta se abriu. Você foi. Eu fiquei. Nesse ato obscuro e criminoso, meu coração se rasgou.
Não sei se morri com o prazer ou com a sua partida.
Só sei que, desde aquele momento, você não sai da minha
cabeça.
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