segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Noite

O rosto me persegue até em sonhos. O rosto me faz querer mais. O rosto insiste em mim. E eu insisto em não esquecê-lo.

Aliás, antes fosse apenas o rosto. Cada traço do seu corpo persegue minha mente com uma força absurda. Me sinto violentado. Me sinto vazio. Me sinto lotado de você.

Aquelas cenas passam pela minha cabeça como flashes de um film noir. A estética contrastante, o clima denso. Você com uma expressão poderosa no rosto – assustadora, tensa, profunda. A expressão de um assassino, capaz de estraçalhar a sangue frio qualquer coração desprotegido. O meu coração.

Você tem uma boa mira, sabia? Acertou em cheio. Conseguiu o que poucos, antes, haviam conseguido. Minha mente não parece entrar em sintonia com quaisquer outros pensamentos que não sejam aqueles envolvendo você. E as cenas noir se repetem. E se repetem. E se repetem. E se repetem.

Estamos, agora, na cena do assassinato. Eu e você na cama. Um cigarro entre os seus lábios. O êxtase se esvaindo aos poucos. E no seu corpo – eu sabia – a sensação de plenitude que só um assassinato muito bem planejado seria capaz de proporcionar.

Você me matou. No quarto daquele hotel barato e barulhento, você me matou. Me matou com todo o estilo de um matador profissional. Me seduziu. Me fez ansiar pelo momento em que estaríamos naquele hotel. Um lugarzinho escondido, nos cantos mais sórdidos da cidade, com quartos que serviam, basicamente, para dois – ou mais – transarem.

Você me matou. A melodiosa voz de Frank Sinatra se misturou aos gritos. Aos urros. Aos gemidos. Às manifestações sonoras da satisfação e do desejo. Sem piedade, me deixou morto naquele quarto duvidosamente limpo, me entregando – sem pestanejar – às sombras da noite.

A porta se abriu. Você foi. Eu fiquei. Nesse ato obscuro e criminoso, meu coração se rasgou.

Não sei se morri com o prazer ou com a sua partida.
Só sei que, desde aquele momento, você não sai da minha cabeça.

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