quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Superficial

O rapaz estava se sentindo péssimo. O dia finalmente havia chegado. Naquele aeroporto movimentado e barulhento, mais uma despedida inauguraria a triste distância entre duas pessoas que realmente se gostavam.

O rapaz estava se sentindo confuso. O dia finalmente havia chegado. Naquele aeroporto movimentado e barulhento, mais uma despedida inauguraria a nova fase em sua vida, mesmo que isso significasse a distância entre duas pessoas que realmente se gostavam.

Havia uma contagem regressiva implícita nos últimos meses. O jovem de 20 anos estava sofrendo pela iminência da distância. Pela iminência da solidão. Pela iminência da mudança – que daqui pra frente faria da vida uma experiência bem diferente da que estava acostumado.

Havia uma contagem regressiva explícita nos últimos meses. O jovem de 21 anos estava nervoso pela iminência da distância. Pela iminência de novas experiências. Pela iminência da mudança – que daqui pra frente faria da vida uma experiência bem diferente da que estava acostumado.

Ele conseguia sorrir e mostrar empolgação. Mas, sendo bem sincero, no fundo do peito, sentia uma agonia muito grande. Uma agonia por ter que se despedir da pessoa que vinha deixando os seus dias mais felizes. Mais completos. Mais cheios de amor. Uma agonia porque ele estava ficando. E o seu amado indo.

Ele conseguia consolar e mostrar tristeza. Mas, sendo bem sincero, no fundo do peito, ele sentia uma empolgação muito grande. Uma felicidade por estar se despedindo de tudo o que conhecia para viver dias mais felizes. Mais completos. Mais cheios de amor. Uma felicidade porque estava indo. Mesmo que o seu amado estivesse ficando.

É claro que estava triste por ter em seu peito essa sensação de agonia e desamparo. Queria estar integralmente feliz pela pessoa que tornou os seus últimos 8 meses mais alegres e completos, e que, com o perdão da pieguice, mostrou que o amor saudável – e não destrutivo – é possível. Mas não dava. A distância era sinônimo de solidão.

É claro que estava triste por ter em seu peito essa sensação de empolgação e euforia. Queria sentir mais empatia pela pessoa que tornou os seus últimos 8 meses mais alegres e completos, e que, com o perdão da pieguice, mostrou que o amor saudável – e não destrutivo – é possível. Mas não dava. A distância era sinônimo de novas possibilidades.

O aeroporto estava lotado. Tantas pessoas sem rosto correndo de um lado para o outro. Chorando, sorrindo, se abraçando. Sentindo falta. E o rapaz ali, de frente para quem tanto amava e que estava indo embora. Indo embora para viver outros mundos. Para conhecer outras pessoas. Para ser livre.

O aeroporto estava lotado. Tantas pessoas sem rosto correndo de um lado para o outro. Chorando, sorrindo, se abraçando. Sentindo falta. E o rapaz ali, de frente para quem tanto amava e que estava ficando por aqui. Ficando por aqui para viver a vida de sempre. Para, com sorte, conhecer algumas pessoas. Para continuar aqui, preso.

Última chamada para o voo. E último beijo. E último abraço. E último olhar. Apenas o começo de uma solidão sem prazo de validade definido.

Última chamada para o voo. E a possibilidade de novos beijos. E a possibilidade de outros abraços. E a possibilidade de outros brilhos em outros olhares. Apenas o começo de uma nova vida.

- Te amo.

- Te amo.

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