terça-feira, 31 de agosto de 2010

(Sem) sentido

Escuridão. Escuridão total. O que será que aconteceu? Me sinto entorpecido, sem sentidos, mas ao mesmo tempo sentindo tudo. No limiar da consciência e no meio da linha tênue que a limita da inconsciência. Quero me levantar, quero ver, ouvir e falar, mas nada disso se faz possível.

Algo acontece. Mesmo de olhos fechados, sinto que algo mudou. A atmosfera mudou. Logo percebo: consigo me mexer. E me sento. Abro os olhos, mas tudo ainda está preto, o que me deixa na dúvida se meus olhos estão realmente abertos. Tudo é breu, um negrume completo. Mas, distante, uma fraca luz no horizonte me confirma que meus olhos estão, sim, abertos e consigo ver perfeitamente. Estou estranho. Sem emoções, sem dores. Percebo cada partícula do meu corpo com especial clareza, mas ao mesmo tempo não tenho certeza se estou mesmo ali, caminhando na direção daquele brilho estranho.

Aquele brilho. Sinto que tenho que chegar lá, porque ele vai me dar a resposta que preciso, por mais que ainda não saiba a pergunta exatamente. A única coisa que me pergunto é “O que estou fazendo aqui?”. Conforme vou me aproximando da luz, ao que parecem decorrer horas (ou seriam apenas minutos?), outras perguntas surgem em minha mente, como por exemplo, “como vim parar aqui?” e “Onde estava antes disso tudo?”. Estranhamente, não me sinto abalado nem minimamente cansado. A luz se aproxima, está maior e fulgurante.

Então, eu vejo. Naquele extenso corredor negro, caminham ao meu lado outras pessoas. O curioso é que não estavam ali segundos antes, mas logo entendo o porquê: diversos túneis e bifurcações terminavam exatamente naquele ponto do longo e escuro túnel, juntando todas as pessoas que estivessem andando ali também, como eu. Todas elas pareciam alteradas, apáticas. Me perguntei se parecia assim também, e logo veio em mente novamente a antiga pergunta: “O que estou fazendo aqui?”. Antes que pudesse cogitar uma resposta, ouvi um estrondo que fez meu coração se agitar e parar na garganta. Ao meu redor, todos haviam estacado no lugar, visivelmente assustados também. A luz - nosso objetivo e destino - parecia que continuava na mesma distância que estava quando comecei a caminhar... Mas então, eu fico cego. Uma luz súbita e cegante atinge meus olhos em cheio, e eu caio, desnorteado.

Logo retomo a consciência, e, estranhamente, volto a enxergar como se nada tivesse acontecido. Porém, aconteceu. A luz ainda está ali, gigantesca, resplandecente. O progresso que não fiz na minha caminhada, aquele estranho fulgor atingiu num piscar de olhos. Eu tinha que continuar, e, pelo visto, não fui o único a pensar nisso: todos os outros que estavam à minha volta se levantaram e, como eu, continuaram a caminhada, mais apressados dessa vez. Eu tinha que chegar lá. E rápido. Por quê? Não fazia ideia.

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