A única coisa que eu queria era ter mamãe só pra mim. Desde que papai morreu, ela tem sido minha. Dormíamos juntos, acordávamos juntos. Sentia seu amor, sentia que era o único de sua vida. Sofremos muito mas, pensando bem, a morte do papai não foi de todo mal... Estavamos mais unidos que nunca, e eu a amava tanto que não consigo nem explicar. Me imaginar sem ela era inadmissível, não existia essa possibilidade. E, com minha ajuda, ela se reergueu. Superou a perda, algo que eu já tinha conseguido.
Até que entrou Eduardo na história. Imagine o pior homem que sua mente consiga idealizar, agora multiplique por mil. Assim era ele. E, aos poucos, conseguiu atrair a atenção dela. Eu o detestava com todas as minhas forças. Que direito achava que tinha de tirar minha mãe de mim? Isso já é revoltante, mas minha mãe também havia me decepcionado. Ela me pôs de lado pra ficar só com ele, chegando até a me deixar com a tia da casa ao lado pra sair com ele. Absurdo. Eu não podia deixar isso acontecer por mais tempo... e tomei uma decisão.
Na segunda vez que minha mãe - a MINHA mamãe - quis me deixar na vizinha pra sair com o Eduardo, eu já tinha tudo arquitetado. Na gaveta tinha uma faca daquelas bem grandes, e eu a peguei. Estava sentado no tapete da sala brincando quando a campanhia tocou. Mamãe foi em direção à porta, mas eu sorri pra ela e indiquei que ia abrir a porta pro Eduardo. Fui lá, abri a porta. A faca na mão esquerda, bem escondida nas costas.
"Oi, Fernando." Disse ele, com seu sorriso dissimulado no rosto. Eu respondi, fechando a porta, com toda calma do mundo: "Meu nome é Felipe, você sempre erra." E, segurando firme a faca, perfurei sua barriga e peitoral. Uma, duas, três, quatro vezes antes da minha mãe perceber o que estava acontecendo. Deu um grito desesperado, e eu me virei pra ela, sem parar com os movimentos contra o corpo do Eduardo. Em choque, penso eu, mamãe começou a chorar e a tremer. Eu disse: "Já vai acabar", e logo a soleira da porta estava toda ensanguentada. Sangue sujo do ex-namorado de minha mãe. Quando terminei, me virei pra ela, sorrindo por ter resolvido esse problema em nossas vidas e com a perspectiva de vivermos bem unidos como antes.
Não foi como eu esperava. Ela gritou mais um pouco (isso estava cansando, eu pensei) e disse: "Você não é meu filho, é um monstro!". Acredite, foi pior do que uma facada. Não podia acreditar que ela estava dizendo isso. Será que não entendia que havia feito o melhor pra nós dois? Eu tremia. Estava sentindo uma raiva tão grande pela ingratidão dela e isso definitivamente não podia passar em vão. Ela tinha que sentir. Se me achava um monstro, um monstro ela iria ver. Eu corri com a faca sangrenta apontada direto para seu coração - porque eu sabia onde ficava ele - e com toda a minha cólera por sua reação, afundei o metal contra carne, contra músculos. Disse pra ela: "Eu apenas queria minha mãe inteira pra mim. Se você não quer, mamãe, é melhor não estarmos aqui, porque não adianta só eu querer." E ela caiu no chão, desmontando à minha frente, uma lágrima percorrendo a curva de sua bochecha.
Com a faca pingando sangue em minha mão, eu olhei em volta. A porta inocentemente fechada, e o que antes poderia se chamar Eduardo caído na soleira da porta. Ele estava horrível, e eu achei graça. Duvido que mamãe se interessa por ele agora, cheio de furos pelo corpo, pensei. Olhei pro outro lado e a vi, estirada em um ângulo estranho no chão, o peito vazando sangue. Bem feito. Foi ela quem me ensinou a não ser ingrato, e minutos atrás havia cometido a maior ingratidão que poderia ser possível, apenas por ter salvado ela do falso que era Eduardo.
Eu pensei muito, e decidi que não valia a pena me matar. Sabia que seria o mais óbvio a se fazer, mas tão clichê também... Lavei a faca na pia e a depositei na gaveta de novo, onde estava antes. Deixei os corpos ali no chão mesmo, sem me importar... Quem se importa com carcaça, com restos? Chaveei a porta da casa, tomando cuidado pra pisar nos dedos daquele corpo dilacerado que antes fora Eduardo. Voltei pra sala, liguei a televisão e dei um sorriso. Pela primeira vez no dia algo estava dando certo: o meu programa favorito estava começando. Me atirei no sofá e comecei a assistir... Estava quase dormindo ali mesmo quando vocês chegaram. Deve ter sido a tia Armena que chamou vocês, ela tem os ouvidos ligados, apesar da idade.
Tá, cansei de falar. Pode me trazer um copo d'água, Sr. Delegado?
Adorei, Gabi! Parabéns, tu tem um dom, haha!Beijos, Mai. ;)
ResponderExcluirAaah, Mai! Brigadão, HASUEIOASIU! :D Beijos.
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