sábado, 18 de dezembro de 2010

Duplicidade

Muito barulho. Zumbidos. Gritos.

Era apenas o que os ouvidos do adolescente conseguiam captar. A sua volta, vultos indistintos entravam e saíam de seu campo de visão. Ele apertava os olhos tentando enxergar algo além daquilo que dominava sua visão, mas tinha uma vaga consciência de que seus esforços eram, pelo menos agora, inúteis. O garoto não sabia onde estava ou o que estava acontecendo ao seu redor, mas sentia, de alguma maneira entorpecida, mãos o tocando e braços tentando o erguer do que parecia ser o chão. Com um puxão forte pelas axilas, sentiu-se preso, segurado por alguém. Logo, os vultos sumiram e sobreveio a escuridão.

Ele abriu os olhos e sentou-se de chofre naquela cama aparentemente de uma clínica ou hospital. Vislumbrou o local: poucos móveis, um quadro de flores na parede e uma escrivaninha com um jarro de água pela metade. Tudo branco e incrivelmente limpo. Além das dores pelo corpo todo, percebeu algo mais. Na cama ao lado, estava alguém que ele nunca imaginou ver - ou sequer existir. 

Um garoto estava deitado na cama ao lado. Um garoto absolutamente idêntico a ele. Peter, como era seu nome, via seu rosto refletido ali, a poucos metros de distância, quase ao alcance de sua mão. Seus olhos passaram pelo corpo do garoto - o seu corpo. O cabelo do outro Peter, como automaticamente nomeou a figura, tinha a cor e o corte iguais ao seu: um castanho dourado com cachos desenhados ao redor da cabeça. Os olhos do outro estavam placidamente fechados, mas Peter não duvidava que fossem cor de mel, como os seus, que agora expressavam incredulidade. O rosto era assustadoramente igual, como se ver em um espelho. Se se deparasse com uma foto do outro garoto, diria "esse sou eu".

Quando ele se sentou na cama, sentindo sua perna doer e tentando enxergar o garoto mais de perto, a cama rangeu. O outro, como num filme em câmera lenta, abriu os olhos e focalizou o já assustado Peter, com uma expressão enigmática no rosto. Ele sentou-se na cama, apoiando os pés no chão, e calmamente pôs-se a olhar seu debilitado irmão gêmeo.

3 comentários:

  1. gabriel, devo admitir que me identifiquei com o texto. lembrou-me meus próprios textos. de qualquer maneira, independente disso, gostei muito. parabéns!

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  2. Hahaha! Realmente, agora pensando, percebo semelhanças mesmo. E brigado, Gabriela, também gostei dos seus que li. Parabéns pra você também!

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