segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Experiência.s

Música, luzes. Homens gritando e rindo, mulheres dançando. Seduzindo. Tudo no mesmo ambiente. Um calor de matar. É, eu esperava por isso. Falando de modo chulo, o puteiro mais famoso da cidade - e caro também. Pelo que via, valia a pena. As garotas ali eram lindas e muito, muito gostosas. A primeira cena que vi quando entrei foi uma mulher sentada no colo de um velho de uns sessenta anos rebolando ao som daquela música provocativa sob as luzes dançantes. Desviei o olhar, ajeitei meu paletó e passei a mão no cabelo. Estava agora perto de um imenso balcão onde várias mulheres seminuas - beldades, na verdade, apenas de calcinha - dançavam e rebolavam, indo até o chão e levando aos céus a excitação dos que as assistiam.

Admito que eu já estava, digamos, fora de mim quando me ajeitei em uma cadeira e coloquei meu casaco ao lado. Antes que percebesse, uma linda ruiva de uns vinte e poucos anos estava na minha frente, com um bloquinho e uma caneta em mãos, pronta para anotar meu pedido. Ela vestia um vestidinho simples, muito curto, e um avental que, propositadamente - creio eu -, instigaram ainda mais minhas fantasias.

- O que vai querer, meu amor? - Disse ela, mordendo a ponta da caneta e me olhando.
 
- Um martini, apenas. Pra começar. - Respondi, percebendo aqueles olhos verdes dela, brilhando. Sorri quando me deu uma piscadela e, jogando os cabelos vermelhos para trás, virou-se de costas e foi em direção ao bar.

Fiquei admirando as beldades que dançavam quase hipnoticamente enquanto minha bebida não chegava. Logo, muito inesperadamente, eu a vi. Mais linda do que todas as outras. Aliás, linda era pouco. Aquela mulher parecia ser irreal, tão maravilhosa que era. Estava a um canto, sem dançar ou demonstrar qualquer interesse no que acontecia ao seu redor. Ela era fascinante.

Quando a bela ruiva - que em comparação com aquela outra parecia tão simples e comum - trouxe meu martini, eu decidi.

- Então… como posso te chamar? - Perguntei, com um sorriso no rosto.
 
- Eva. Apenas Eva. - Falou ela, me olhando de cima a baixo.
 
- Ótimo. Então, Eva… Quem é aquela morena parada ali no canto? - Questionei, cuidando para não demonstrar demasiado interesse, modulando minha voz.
 
- Ah, ela. - resmungou, repentinamente irritada. - É a Lúcia. Trabalha aqui apenas… você sabe, com programas. Mas é nova, hoje é sua primeira noite.
 
- Ela é muito linda. - Eu disse, olhando pra ela.
 
- É o que disseram vários homens hoje. Mas nenhum tinha o necessário pra tê-la, se é que me entende. Pode tentar. Se tem bastante dinheiro aí com você, vai lá. Fala com ela. - Eva falou, visivelmente querendo parecer indiferente. Mordia a caneta e, quando percebeu meu olhar sobre Lúcia, fez um muxoxo de impaciência. - Ela tá no topo por aqui. Chegou hoje e já é a mais cara de todas. Não sei porquê, mas… - Devaneou Eva, revirando os olhos e clicando a ponta da caneta repetidamente.
 
- Ok, muito obrigado, Eva. - Eu disse sorrindo, colocando a mão no bolso da calça e tirando minha carteira. Peguei algum dinheiro lá de dentro, sem olhar, e entreguei a ela.
 
- Ah, eu que agradeço, docinho. - Abrindo um sorriso pra mim, pegou o dinheiro e colocou entre os peitos. Mordeu os lábios, me deu uma olhada e se virou, caminhando para o bar.

Lúcia. Então esse era o nome daquela divindade. Tomei um gole do meu martini, pus a carteira de volta no bolso e levantei. Lúcia então se virou e seu olhar parou exatamente em mim. Seu olhar era profundo e algo nele me amedrontou, mas eu não desviei. Mantive meus olhos cravados nos seus até que estávamos bem próximos. Sorri, mas me senti imensamente fraco e inexperiente - coisa que definitivamente eu não era - perto dela. Lúcia se mantinha séria e absoluta sob seu vestido vermelho e sedutor. Tinha um corpo lindo, mas seu rosto me hipnotizava. Então ela quebrou o silêncio.

- Oi. Eu sou Lúcia. - Falou, me dando um sorriso. Um sorriso que gelou meus ossos, mas ao mesmo tempo uma vontade voraz de dominá-la, tocá-la, tê-la, me invadiu de uma maneira nunca vista. Eu precisava dela.

- Meu… meu nome é Carlos. - Eu me apresentei, meio atordoado. Ela era deslumbrante, porém seus olhos eram frios e indiferentes. Mas muito - absurdamente -  sedutores, assim como toda sua figura.

- Quer alguma coisa comigo? - Ela falou, séria, me analisando. Sentia aqueles seus olhos cravados em mim, como se me escaneasse. Eu tentei voltar à minha pose antiga.

- Sim. Eu quero você. - Tentei ser o mais direto possível, assim como ela foi.
 
- É, eu sei, todos querem. Tem dinheiro aí? - Ela deu um sorriso que não chegou aos seus olhos e me fez desejá-la ainda mais. Aquele mistério por trás dessa máscara de frieza.
 
- Tenho, muito. E estou disposto a usá-lo todo com você. - Falei, pegando minha carteira, afobado.
 
- Essa parte não é comigo. Você paga ali, com aquele homem alto. - Lúcia me disse, apontando para um homem no balcão central, de aparência forte e violenta.

Fui até lá, com a carteira em mãos, e tirei quase todo o dinheiro que estava lá dentro. O homem notou minha presença e continuou a me olhar. Lhe entreguei o dinheiro e disse que queria Lúcia. Ele assentiu, sorrindo. Se divertindo. Eu estava ansioso, e o homem apenas me entregou um papel e fez sinal positivo. Liberado.

Caminhei até ela, a bela e sedutora mulher. Ela estava parada me olhando, e estendeu a mão. Eu lhe entreguei o envelope. Ela abriu, leu e deu um um pequeno sorriso. Passou a mão pelos cabelos assentando-os pra trás e novamente me encarou. Ficou séria e disse:

- Então você será meu primeiro cliente. Vamos lá. - E começou a caminhar em direção à uma escada. Eu a segui, sorrindo, satisfeito comigo mesmo.

Subimos as escadas e caminhamos por um corredor mal iluminado e, pode-se dizer, luxuoso. Dobramos a direita e demos mais alguns passos, até que ela se virou pra mim, séria, e abriu uma porta. Entrei logo depois de Lúcia no aposento. Era espaçoso, limpo e realmente instigante. Ela foi em direção a uma poltrona e, de uma vez, tirou o vestido.

Eu enlouqueci. Aquele corpo, todo pra mim. A perfeição. Sempre me olhando, ela agora estava apenas de calcinha e sutiã. Ergueu uma sobrancelha, abriu um pequeno sorriso debochado e falou:

- Sua vez. - E, caminhando para mais perto de mim, disse: - Ou prefere que eu faça isso?

Como eu mantive silêncio, admirado com aquela mulher, ela começou a tirar minha roupa. Iniciou pelo paletó, atirando-o longe, e logo as coisas começaram a esquentar. Depois de tirar minha camisa, desabotoando-a calmamente e me deixando mais ansioso, partiu para as partes de baixo. Quando fez menção de abaixar para tirar minha calça, eu a agarrei e a beijei. Ela retribuiu. Era um beijo estranho - frio, talvez -, mas conseguiu me deixar mais excitado do que já estava.

Após alguns instantes, ela se abaixou. Abriu meu zíper, tirou minha calça. Eu estava apenas de cueca, e a ponto de explodi-la. Então, inesperadamente - pois esperava que ela levantasse agora -, senti sua boca lá. Quase não agüentei durante todo o tempo. Não preciso nem falar o quê. Quando estava prestes a atingir os céus, ela parou. Levantou-se e, sem me beijar, foi para a cama. Fui atrás, ansioso. Agora era minha vez de tirar suas peças de roupa remanescentes.

Depois de algum tempo retribuindo o que ela fez, decidi que estava na hora. Contemplei seu corpo por um instante e fiz o que deveria ser feito. Durante algum tempo, apenas aproveitei a sensação de estar invadindo seu corpo: o corpo escultural daquela mulher maravilhosa. Agora entendia porque era a mais cara, mesmo sendo nova. Ela era ótima, parecia que seguia seus instintos de uma maneira que sempre, sem exceção, me oportunizava a melhor sensação.

Fizemos de todas as maneiras que conseguimos pensar, e no fim eu pensei que teria um ataque no coração, tão intenso foi o orgasmo. Deitei na cama, ao seu lado, após terminarmos, e fiquei arfando durante um tempo, ainda sentindo espasmos. Ela estava apática, sem fôlego também, mas… estranhamente inalterada.

- Você gostou? - Eu perguntei ainda olhando o teto, recuperando o fôlego e sorrindo.

- Eu era virgem. - Repentinamente ela disse. Eu me assustei, virando-me de lado e olhando-a.
 
- Sério? Mas por que você decidiu… - suspirei e falei: - Você sabe.
 
- Eu queria que fosse assim. Mas - e agora foi sua vez de me olhar. - eu não senti absolutamente nada. Eu usei um gel pra que parecesse natural. Todas usam aqui. Não que pra elas seja necessário, - e, mais uma vez, ela olhou para o teto. - mas pra mim foi.
 
- Você não sentiu nada? - Perguntei, me sentindo mal, como se incapaz de dar prazer a uma mulher. - Eu digo, nenhuma excitação ou prazer?
 
- Não.  Absolutamente nada. - Concluiu Lúcia.
 
- Mas em um momento você realmente pareceu estar gostando. - Eu disse, mais para melhorar minha auto-estima do que ajudá-la.
 
- Sim, quando eu comecei a te arranhar. E você sentiu dor. - Analisei seus olhos, que brilharam momentaneamente.- Não sentiu?
 
- Eu… Sim, senti. - E então, perguntei novamente. - E isso foi bom?
 
- Não sei, tá bom? - Ela se virou e sentou na cama. - Você pagou, nós fizemos. Agora pode ir embora.

Então, sem dizer palavra, ela se levantou e foi para o banheiro. Eu fiquei sem ação, me sentindo mal, e logo me ergui também. Me vesti devagar, pensando. Ela era a primeira mulher que não sentia nada comigo. O problema, então, não deve residir em mim.

6 comentários:

  1. Você tem muito talento, e acho que já deve saber disso, seu blog é adoravel.

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  2. Você está com vergonha Gabriel?

    Acho que você devia ter explorado mais o momento do sexo, o que ele pensou, mais detalhes, foi tudo muito por cima. Entre de cabeça, no sentido bom da palavra.

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  3. A Lúcia além de cruel ainda é prostituda, Meu Deus! Amei o texto, amei a forma com que tu conduziu a história, contando cada detalhe do encontro. Ficou lindo!
    Parabéns, mais uma vez! <3

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  4. Prostituta*
    Isso que dá não revisar o comentário KKKKKKK

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  5. Incrível, Gabriel. Muito bom mesmo. E detalhado, embora eu deva concordar com o Eduardo sobre a parte do sexo em si. Acredito que tenha sido preferência sua retratar a cena de modo mais superficial, para que, no final, parecesse algo frio, indiferente a Lúcia, e estranho para Carlos. De todo jeito, um texto incrível. Parabéns pelo talento. (:

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  6. Um daqueles textos que lemos a primeira linha, já querendo pular para a terceira, ansiosos sobre o que vai acontecer. Poucos me deixam assim! Adorável, parabéns.

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