terça-feira, 31 de julho de 2012

Afundando


O que acontece? Minha cabeça dói e meus olhos me enganam. A mulher ao lado, gorda e baixinha, me olha de canto. Não sei o que está acontecendo comigo, mas estou enxergando milhares de pontos pretos que se dilatam cada vez mais e invadem minha vista.

As cores. O mundo. Tudo desaparecendo. Sendo expulso. E eu em pânico. Não sei o que fazer. Será que estou ficando cego? Mas não faz sentido. Alguns minutos atrás estava nesse mesmo banco em que me encontro, observando os pássaros e as crianças brincando, além da idosa com aparência simpática – a que agora me olha assustada -, jogando pedacinhos de pão aos pombos.
  
Quase não vejo mais nada. Apenas algumas pequenas brechas entre essas esferas negras que inundam minha visão permitem que eu enxergue as cores e formas que antes dominavam meus olhos. Viro minha cabeça para o lado e a senhora continua ali, agora me encarando sem vergonha. Há uma grande escuridão na maior parte de seu rosto enrugado, mas consigo ver sua boca e perceber que se dirige a mim.
 
- O que você tem, meu filho?! Está pálido e suando frio! – e após uma pausa considerável, se levanta olhando ao redor – Vou chamar alguém agora mesmo.

Ela sai mancando com sua bengala, deixando a sacolinha plástica com pedaços de pão para trás. Ouvi o que ela disse, porém de maneira distante. Como se meus ouvidos estivessem cada vez mais longe de onde estou – proporcionalmente com a visão, que praticamente está nula agora.

Tento gritar. Mas nenhum som parece sair de minha garganta. A única consciência que tenho é a de estar afundando em mim mesmo. Num abismo que parece estar dentro de meu ser. Estou assustado. Tento gritar mais uma vez, porém nada acontece. Mal consigo abrir minha boca.

Sem visão. Agora só existe negrume. Sem audição. Ouço apenas meus pensamentos.  Minha voz também sumiu e percebo que não sinto mais o banco em minhas costas, o sol sob minha cabeça ou mesmo as roupas em meu corpo. Não sinto nada.

Pelo menos ainda penso. Será que continuo no banco? Podem estar fazendo qualquer coisa comigo. Será que a praça ainda está lá? Será que a idosa conseguiu ajuda? Será que eu ainda existo? Será...?

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