terça-feira, 31 de julho de 2012

Nostalgia

É engraçado. Essa sensação. Me sinto fisgado pelo umbigo pra dentro de mim mesmo. E não faço ideia de como e porquê isso tá acontecendo. Estava em casa, sozinho no meu quarto, quando tudo começou a se desmanchar e eu senti aquilo. Um frio na barriga maximizado. Muito estranho. Simplesmente aconteceu.

Realmente não tô entendendo nada. Um segundo atrás estava em casa, no meu quarto, me arrumando pra ir ao meu aniversário de 18 anos. No segundo seguinte, nada mais daquilo existia. E ao meu redor todo um novo cenário havia se criado. 

Me encontrava agora em um grande cômodo cheio de balões verdes e brancos. Engraçado, isso não me é estranho. Decido caminhar em direção a um portal que parece dar para outra grande sala. Passo por algumas mesas decoradas e penso que talvez possa estar em uma festa...

Ao passar pelo portal, me deparo com uma cena desconcertante e, de certa forma, assustadora. Minha mãe, com cabelos longos e escuros, está abraçada ao meu pai, que estranhamente tem a cabeça coberta por cabelo (o que é bem estranho mesmo), já que cresci com ele reclamando da calvície.

Aumento meu campo de visão e me deparo com muitas outras pessoas ao redor deles. Meus tios, tias, avôs, avós e pessoas desconhecidas. Todos parecem mais jovens, e isso assusta. Porém, o que mais espanta, é o fato de todos estarem paralisados. Total e simplesmente imóveis. Vou chegando mais perto do aglomerado de pessoas e vejo que meus pais estão atrás de uma grande mesa cheia de docinhos, balões, salgadinhos e um grande bolo na frente deles. Mas isso é o de menos: eles não estão abraçados um ao outro, e sim com um menininho mais a frente enganchado em ambos. Eufórico, mas com vergonha.

Ao lado desse menino, vários outras crianças estão congeladas no meio das palmas. Percorro o olhar por cada uma delas e, ao chegar em uma menina com densos e inconfundíveis cabelos loiros, me dou conta de tudo. A menina é a minha atual namorada, e sempre foi amiga de infância. Isso me faz perceber que o menininho imediatamente atrás do bolo só pode ser uma pessoa: eu. Completando 5 anos de idade, como indica a grande vela verde em cima do bolo. Ela está acesa, mas o fogo – assim como todo mundo lá, exceto eu – tá parado. Totalmente paralisado.

Olho pro meu eu de 13 anos atrás e para aqueles outros rostos felizes e despreocupados dos meus ‘amiguinhos’. Engraçado. Nem falo mais com alguns. Outros se tornaram amigos de ‘oi, tchau’. Só dois daqueles todos permanecem firmes em minha vida: a loirinha do meu lado - somos namorados faz dois anos – e o garoto mais alto entre todos aqueles ali, que é meu melhor amigo até hoje.

Num ímpeto de nostalgia, sinto vontade de interagir de alguma forma com aquilo tudo a minha volta. E num impulso, levo o indicador e o polegar direito à boca, umedeço com saliva e apago o fogo. Ou melhor, não sei se apago. Não sinto direito o que acontece, a textura dele parece mais elástica, mais sólida.

Só o que sei é que, no momento em que toco o fogo, tudo ao meu redor parece descongelar: ouço o tradicional ‘parabéns pra você’ sendo cantado por todos, o som de palmas e das pessoas rindo. Vejo sorrisos e olhares. Palmas em sintonia e aquela pequena chama bruxuleante refletindo nos olhos do pequeno garoto que está completando cinco anos. Creio que ninguém notou minha presença, e dessa forma me aproximo da mesa, dou a volta e fico atrás do meu eu mais jovem, no meio dos meus sorridentes e animados pais.

Ao fim da música e das palmas, o garoto se inclina a frente para assoprar a vela. Me abaixo junto, colocando as mãos em seus ombros pequenos. Os meus ombros. Então, juntos, assopramos a vela e apagamos a chama. 5 anos. 18 anos.

No momento em que o pavio se apaga totalmente, ouço mais palmas e exclamações de felicidade. Tudo isso vai ficando mais distante até que sinto um grande puxão no umbigo e, em um breve instante, a festa, as pessoas e o barulho simplesmente desaparecem.

Tô no meu quarto, deitado na cama. Atrasado pra minha festa de 18 anos.

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